24 fevereiro, 2013

Portugal, Lisboa e o Resto do País - 2ª Parte.


(continuação disto)

Lisboa, o berço do “Sebastianismo Abrilista”

Nas décadas recentes, com os complexos resultantes de uma ditadura de direita, esta aliança entre a Esquerda política  e o “jornalismo militante” – cada vez mais relevante pelo crescente peso que a comunicação social tem nas sociedades modernas – transformou este País num terreno cada vez mais adverso a tudo o que não tenha o rótulo socialista. Aliás, muitos cidadãos nem saberão que, hoje, mais de 30 anos depois do 25 de Abril, a nossa Constituição (ainda) começa assim…

 "A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português..."

Se alguém duvida que este país é socialista... Outro assunto interessante de analisar seria o conteúdo dos programas escolares, formatados à medida deste “esquerdismo”. O ensino português está construído para “produzir” cidadãos que, por defeito, denotam uma tolerância infinitamente maior com tudo o que seja de Esquerda – nem que seja só o rótulo – e hostilidade em relação aquilo que não é. Aliás, mesmo quando é o partido (dito) socialista a governar, a "coisa só dá para o torto" porque estes adoptaram... políticas de direita! A Esquerda tem sempre razão...

NOTA: Vejamos um exemplo mais imediato: o processo pelo qual Relvas está a passar. Independentemente se o homem deveria estar em funções ou não – objectivamente - será que este ministro está entre os principais responsáveis da situação, ou por outra, será “O” culpado pelos sacrifícios que os portugueses estão nesta altura a suportar? Não será que existem outras figuras da política lusa a merecer muito mais repúdio por parte da “opinião pública”? Se Relvas fosse de esquerda, teria existido esta campanha de ódio?...


Concluindo…
Dir-se-á que o País tinha (tem) grandes níveis de analfabetização, que se tratava de uma sociedade rústica, “retrógrada”, e que esta espécie de “minoria iluminada” veio implementar as mudanças de que Portugal precisava para se aproximar dos países do 1º mundo. Em alguns aspectos isto até é válido (ditadura é, obviamente, inaceitável), mas olhemos aos resultados:

- nos últimos 30 anos o País, sempre "pela mão" do partido socialista, entrou por 3 vezes em bancarrota (78, 83 e 2011);

 - nos últimos 30 anos, as desigualdades no interior do nosso território, agravaram-se. Hoje, um cidadão de algumas zonas do Norte conta com 1/3 do rendimento médio de um seu compatriota que viva na capital. Esta discrepância é ainda mais gritante quando verificamos que a Região Norte, apesar de ser a que mais exporta, ou seja, a que mais riqueza produz, é a região mais pobre do País…;

- nos últimos 30 anos, de acordo com dados da OCDE e apesar de toda a retórica esquerdista de protecção dos mais desfavorecidos, Portugal encontra-se entre os países com as maiores desigualdade de rendimentos e das sociedades onde existe um maior fosso entre ricos e pobres;
Todos os factos apontam para uma realidade bem distinta da “igualdade e fraternidade” anunciadas, pelo que a tese da “minoria iluminada” que se impõe a uma “maioria retrógrada” (mais consentânea com o “jacobinismo” que com os valores da democracia), cai por terra. Mas, olhando ao n.º de vezes que nos últimos dias se ouviu o "Grândola vila morena...", percebe-se quantos portugueses vivem em estado de negação. Então, com excepção do consulado de Cavaco (que coincidiu com o único período em que tivemos cerscimento decente, diga-se), não foi a Esquerda que dominou a vida política nas últimas décadas?
 
Mas, fruto do tal "Sebastianismo Abrilista", muitos preferem ignorar factos como Sócrates ser o pai da bancarrota ou o PS ter governado quase ininterruptamente entre 1995 e 2011. Não, não foram os socialistas nem a esquerda, os responsáveis pelo estado lastimoso do País... talvez porque dessa forma esperam ficar com uma consciência mais tranquila face aos ideais e conquistas não cumpridos, preferem atribuir as responsabilidades da miséria a que o País chegou aos governantes que tomaram posse há cerca de 1,5 anos... a culpa, obviamente, é da Direita!

Objectivamente, o modelo económico e social instituído em Portugal não serviu a globalidade da população, antes a minoria que passou a controlar a estrutura do Estado.Em suma, e resumindo a tese central deste post, a existência de duas correntes dentro da sociedade portuguesa: uma (por razões históricas mais ou menos próximas), de matriz mais urbana, fortemente conotada com a esquerda, instalada em Lisboa e encrustada na estrutura de um Estado profundamente centralista, em contraste com outra, mais conservadora e tradicional, menos ideológica e mais pragmática, no resto do país.
 
Assim, seria interessante ver discutida esta ideia:

Sendo INEVITÁVEL uma alteração do modelo económico português, o qual terá de passar, OBRIGATORIAMENTE, por uma forte aposta nos sectores mais tradicionais – nomeadamente, na Agricultura e Indústria -, até que ponto a imposição do modelo de sociedade preconizado por este grupo bem instalado em “Lesboa”, que domina a comunicação social e os próprios conteúdos do sistema educativo,  constitui um obstáculo ao desenvolvimento social e económico de Portugal?