Durante a campanha eleitoral o Syriza suavizou o seu discurso. Dando a entender que o partido de extrema-esquerda tinha evoluído para uma posição mais moderada. Esta “moderação” foi essencial para o seu crescimento eleitoral.
Ao final de uma semana, começa a parecer claro que essa posição foi uma mera estratégia para chegar ao poder. Na Grécia, o socialismo (radical) vai sair da gaveta…
Seria compreensível algum bluff para ganhar margem negocial com as instituições europeia e seus credores, mas os sinais dados desde a sua tomada de posse vão muito para além de uma simples tomada de posição.
1 Escolheu para parceiro de coligação um partido extremista de direita (e como é lindo ver a malta do BE conviver com essa aliança, de repente já é tolerável a xenofobia e homofobia… até o facto de o governo de Tsipras não contar com qualquer mulher não levanta questões de género!);
2 Os primeiros actos incluíram: ir depositar uma coroa de flores no memorial dos combatentes comunistas que foram mortos pelos nazis na II GM e, no seu discurso, o recorrer a linguagem como "o novo Governo está pronto a derramar o seu sangue";
3 Aproximação à Rússia… o primeiro diplomata que Stripas recebeu, foi o embaixador russo. Simultaneamente, criticou a posição da UE e o seu anúncio de novas sanções à Rússia pela evolução dos acontecimentos na Ucrânia .
4 As primeiras medidas de foro económico: todas no sentido de aumentar a despesa pública (aumento de salários, readmissão de funcionários públicos, abortar privatizações em curso, etc.), logo, de se afastar de uma posição de compromisso e de diálogo com as instituições europeias.
Se, em vez de extrema-esquerda, estivéssemos a falar de um partido de extrema-direita estes sinais – que foram largamente ignorados pela nossa comunicação social esquerdista – estariam a abrir telejornais anunciando à populaça que as sombras do extremismo voltam a cobrir a Europa!
Mas, não. Para o nosso jornalismo, tudo o que vem da esquerda é intrinsecamente bom... Tsipras e o Syriza, em vez de sombras, trazem esperança à Europa!
Tsipras, posso estar errado mas é a minha convicção, quer forçar uma saída do Euro. Mas, por cinismo político, não tem coragem de o dizer abertamente.
Essa saída trará mais sacrifícios e sofrimento para o povo grego, que o “caminho da austeridade”. Mas, para Tsipras, será mais confortável dizer aos gregos que a miséria que sobre eles recairá, se deve aos alemães (esses nazis) e aos políticos europeus que "levaram fome à Grécia", que assumir que essa miséria é a consequência da sua opção…
Aliás, essa é a estratégia de qualquer força extremista: o “inimigo comum”. Nunca assumir as responsabilidades próprias pelo que de mau existe numa sociedade e atribuí-las a outrem.
É mais difícil reunir os povos em torno do trabalho e da responsabilidade necessárias para atingir o bem estar comum. É bem mais fácil, convencer os pobres, os marginalizados, que a culpa do seu estado é dos “ricos”, dos “judeus”, dos “imperialistas”, etc..
Ligo a tv e uma jornalista visivelmente entusiasmada, anuncia uma "marcha pela mudança" do Podemos em Espanha...
Cada um deve assumir as suas responsabilidades neste crescimento dos extremismos na Europa. Será que a comunicação social está ciente das suas?
Gostava, dentro de 6 meses, dizer que este post sobre a situação grega, era um completo disparate…