24 fevereiro, 2014

Qual será a distância entre a “versão mediática” e a Realidade?


Várias vezes aqui no blog se questionou a adesão à realidade do que é noticiado, especialmente, nos media de grande audiência (por exemplo aqui ”O País dos telejornais das 20h, será o País Real?”, ou aqui “O “wishful thinking” das redacções VS o País Real”).

Desta vez chamamos a atenção para a cobertura mediática do caso dos Estaleiros de Viana ("polémica"que também já tinha sido focada neste post).

Durante semanas, fomos bombardeados com reportagens diárias nos telejornais que nos davam conta da “luta dos trabalhadores” contra a concessão daquela empresa. Inúmeras vezes, partilhei uma refeição com o Sr. Arménio da CGTP e um outro Sr. com ar ainda mais zangado (de 0 a 10, ele será um 8. Um 10, já agora, é o Daniel Oliveira) que sistematicamente eram identificados nesses peças jornalísticas como sendo os “representantes dos trabalhadores”.

E o que, repetidamente e de forma peremptória, nos diziam esses representantes? Os trabalhadores são contra as rescisões!



Entretanto, o caso deixou de abrir telejornais e este fim de semana, vários órgãos de informação noticiavam:


Ou seja, 98% dos trabalhadores aceitaram a proposta ... este detalhe também é interessante:

“11 funcionários não aderiram ao acordo. A tutela acrescenta que dos sete elementos da comissão de trabalhadores cinco aderiram à proposta.”


Entre o cenário que os telejornais nos apresentaram e este desfecho, não há aqui nada de estranho?! De outra forma, qual será a distância entre a “versão mediática” e a Realidade?

Pergunto: será que aqueles sindicalistas, tal como os srs. jornalistas nos informaram, representavam efetivamente a vontade da maioria dos trabalhadores? 

Será que não existiam outras correntes entre as centenas de trabalhadores,  que o critério jornalístico, simplesmente, optou por ignorar?


Concluindo:


"O espaço mediático atual, será o espelho da sociedade portuguesa e traduzirá de forma isenta as diferentes correntes e sensibilidades existentes? Ou será que esse espaço, negligenciando a missão de informar de forma isenta e, não raras vezes, menosprezando até o pensamento e as convicções da maioria, empenha-se, suportado nas convicções de uma minoria alinhada com o “wishfull thinking” do jornalismo militante, num exercício diário de doutrinação da “população” com os seus próprios valores?"

13 fevereiro, 2014

Claro que a culpa é dos cortes, estúpido!


Na agenda mediática, os “cortes” e a “austeridade”, surgem sempre como o culpado para todo o tipo de fenómeno: pelo desemprego, pelos sem abrigo, pela fome, e por ai fora… Até fenómenos como a redução da taxa de natalidade ou a violência doméstica são conotados com os famigerados cortes.

Diversas vezes aqui no blog, já se questionou esta ideia, mil vezes repetida, e se referiu porque é uma falácia tal raciocínio e a narrativa que lhe está subjacente. Tal como o desemprego ou o “empobrecimento”, os cortes e os sacrifícios com que a sociedade portuguesa se viu obrigada a conviver, são a consequência dos erros de governação cometidos no passado e não a causa desses sacrifícios! Esses, infelizmente, são inevitáveis. E continuarão “por aí” durante anos…. 

Serve esta introdução para contextualizar um dos casos que recentemente suscitou uma onda de indignação "contra os cortes", desta feita na Saúde…

“A Ordem dos Médicos pediu um inquérito à Inspeção Geral das Atividades de Saúde sobre o caso do jovem acidentado de Chaves que percorreu centenas de quilómetros para ser atendido em Lisboa, por não haver vaga de internamento em quatro hospitais do norte.


Vejamos, um doente que não dá entrada em 4 hospitais do Norte do país por, alegadamente, não ter vaga, que faz então 400 km de ambulância e mais uma viagem de helicóptero para chegar a um hospital de Lisboa... pergunto: será que estamos perante um caso onde a explicação mais lógica são os “cortes na saúde”?!... Pois eu não consigo conceber uma solução mais cara que esta para tratar um doente!

Este caso merece a indignação de todos nós, mas será que a responsabilidade desta situação é das políticas do ministério ou das administrações dessas unidades de Saúde ou existirão outros culpados? Quem são os responsáveis pelo funcionamento das urgências dos hospitais às 2h da manhã!?

Como é habitual, logo veio o Sr. Bastonário com a lenga-lenga dos cortes e o ataque ao ministério de Paulo Macedo... Curiosamente (ou talvez não…) nunca ouvimos, por exemplo, a sua opinião em relação às fraudes de centenas de milhões de euros onde médicos aparecem sistematicamente envolvidos. Com tanta presença nos meios de comunicação social - e considerando que se essas fraudes no SNS não existissem, provavelmente, muitos dos cortes nem seriam necessários -, não seria relevante do ponto de vista jornalístico, questionar o Sr. Bastonário acerca das medidas da Ordem dos Médicos tem tomado em relação a esses casos?... Parece que não.

Aliás, em Portugal, "jornalisticamente relevante" parece ser sinónimo de entalar o governo… de direita, preferencialmente.

Voltando ao triste caso do jovem de Chaves uma última questão: Alguém duvida se, por um acaso, aquele jovem fosse filho de algum dos médicos que recusou a sua entrada na urgência, outra solução teria sido encontrada e o problema da “falta de vaga” teria sido resolvido?

Sim Sr. Bastonário, os cortes têm costas largas...


11 fevereiro, 2014

E se o maior inimigo da Educação for… o Estado Social?



(Sim, este texto será reacionário e “impoliticamente” correto)

Cansado de ouvir o ruído mediático que atribui ao governo “a destruição da Educação pública”, venho partilhar uma pequena reflexão / tese sobre o tema:

Não será que, atualmente, o maior obstáculo a um crescente nível de educação da população portuguesa, reside na cultura “subsídio-dependente” que se instalou na sociedade?

Ao contrário de “outros tempos”, não é por falta de oferta de infraestruturas, não é por falta de professores ou por falta de investimento na Educação que um jovem não progride nos estudos. Não se tratam de razões materiais portanto, mas de algo que mudou na sociedade portuguesa…

Por favor! Deixemo-nos do politicamente correto - tão querido à esquerda e seus fiéis seguidores nas redações – e olhemos à realidade: a partir do momento (sobretudo desde o consulado Guterres) que se incutiu numa significativa franja da população, a ideia que o Estado estará sempre - e sublinho o sempre - presente para suprir qualquer uma das suas necessidades através de um subsídio ou apoio (habitação, saúde, alimentação, um curso no iefp, etc.), a Educação deixou de ser o instrumento de “ascensão social” que é suposto ser.

Coloquemo-nos no lugar de muitas crianças deste país, as quais, infelizmente, tendo sido educadas numa realidade onde os seus pais, vizinhos, etc., mesmo sendo desempregados “crónicos”, conseguem ter sempre algum dinheiro no bolso para ir tomar o pequeno-almoço ao café ou comprar o seu maço de tabaco. O que podem estes jovens concluir da sua observação? Que incentivo têm para se esforçar em aprender, em trabalhar na escola para, mais tarde, poderem aspirar a uma vida mais confortável?

Em termos de situação financeira, estas crianças – digamos, estes “filhos do Estado Social” - não terão um estilo de vida muito diferente daquelas cujos pais ganham o salário mínimo, dos filhos daqueles portugueses que, ao fim de décadas de trabalho, tragicamente se viram no desemprego.

O que faz a diferença é o “caldo de cultura” em que cresceram. Aqueles que foram educados numa realidade onde o estudo e a escola, são essenciais para conseguir um bom emprego e uma vida melhor, terão as mesmas possibilidade de sucesso em relação aqueles que foram “ensinados” pela realidade que os rodeia, a esperar pelo Estado e os seus subsídios?

Costuma dizer-se que “Basta uma maçã podre para estragar todo o cesto.”… Infelizmente, para alguns, a Escola passou a ser encarada como um sítio onde o Estado "diz que eles devem estar", assim como, por exemplo, outros passam pelos cursos remunerados das novas oportunidades. Em vez de um local para aprender e obter instrução, parece estar interiorizado que a ida a escola é uma obrigação, uma contrapartida pelo subsídio.

Nunca se ouvira´ um comentador dizer isto num telejornal, mas o ambiente instalado nas salas de aulas deste país, é uma ameaça infinitamente maior para a educação dos nossos filhos, que todas as (supostamente) más decisões tomadas por Crato juntas!

Ironicamente, o “Estado Social” pode ter-se tornado num elemento de exclusão destes jovens (autênticos reféns do sistema de segurança social) por, na prática, constituir um dos elementos que mais contribui para perpetuar uma vida nas margens mais desfavorecidas da sociedade.

Aqueles - crianças e pais -, que conseguem sair do ciclo da subsidiodependência, são uns verdadeiros heróis. Pena que, em vez de estar constantemente a fazer crer a uma população que o Estado tudo deve garantir, a comunicação social não tenha um papel mais pedagógico, difundindo e valorizando os casos de cidadãos que assumem o seu próprio destino, quebrando a situação de pobreza em que se encontravam (parece que este tipo de reportagens levanta questões ideológicas inconvenientes para a narrativa de alguns...). 

Para finalizar, defendo o Estado Social e não tenho qualquer dúvida sobre a importância da existência desses apoios. Mas, deverão ter um cariz temporário e não permanente, sob pena de fomentar o imobilismo e a estagnação social, ao contrario de a combater.