30 dezembro, 2013

Retroespectivando… fim de ciclo, novo ciclo?

 
Em jeito de retrospectiva, não apenas do ano que agora finda, mas dos últimos 40 anos, aconselha-se (mais) este excelente post no “portadaloja”. Através dele podemos, não só, constatar, mas também perceber alguns dos mecanismos que explicam o fenómeno que aqui designamos por wishfull thinking do jornalismo luso.

Através de uma peça jornalística do Público, é possível esmiuçar a narrativa, um autêntico "reescrever da história", que o jornalismo em geral, construiu, e constrói - neste caso particular -, em torno do que correu mal (
apesar de uma ajuda massiva da UE, diga-se...) ao longo do processo de transformação social e económica que Portugal enfrentou desde os anos 70, até ao presente.

Transcrevemos apenas este excerto, mas aconselha-se vivamente a leitura do post na íntegra:
“Por outro lado, como é que o autor explica o que ocorreu em 1974-75? Como a coisa mais natural deste mundo, apesar de notificar que houve "alterações profundas na estrutura económica do país. Nesse ano, a economia não cresceu e, em 1975, em particular, o PIB caiu 4,3, um valor não superado por crises posteriores". Isso apesar de o PIB, poucos meses antes crescer a um ritmo de quase dois dígitos. […]

Estes especialistas analisam assim "a economia", como se fosse um fenómeno estático e dado somente a variações numéricas influenciadas pela conjuntura do momento que é entendida como resultado do devir normal de um qualquer país. Nenhum país da Europa sofreu o descalabro económico que sofremos em 1974-75 e nenhum país da Europa teve uma Esquerda (comunista e socialista) como tivemos por aqui naqueles anos e ainda temos e que revolucionaram a economia nacional para todo o sempre. Conseguiram fazer aprovar uma Constituição absurda e com laivos de país das maravilhas em que não deixaram tocar durante mais de uma dúzia de anos… […]

É por estas e por outras que este jornalismo é assim, tipo para quem é bacalhau basta. A Esquerda não tira ilações das suas derrotas porque não as entende sequer. E a linguagem que usa é a chamada "língua de pau" do economês, sem relação dinâmica com a realidade social e política e muito menos com a língua comum ao entendimento comezinho dos fenómenos. Se houve alguma coisa que mudou essencialmente nestes últimos 40 anos foi a linguagem corrente de quem escreve sobre assuntos específicos. Todos apostam nos estrangeirismos, nas figuras linguísticas sem conotações que sejam fáceis de entender e numa espécia de dicionário de rimas do politicamente correcto que empobrece a escrita e principalmente a explicação de qualquer fenómeno.”
 
Basta ler o título que introduz o estudo analisado no post: “Quando os ventos do exterior acabam com as intenções de reforma”, para confirmar todo um programa defendido pela redação do Público.
 
Para estes intelectuais do jornalismo, há sempre um alibi – que designam por “factores externos” ou a "realidade internacional" - para desculpar as verdadeiras causas dos sucessivos falhanços de construção de um país com níveis de desenvolvimento mais consentâneos com os nossos parceiros da Europa Ocidental - as “receitas esquerdistas”. Quem formule a sua opinião baseando-se apenas no que lê ou ouve, na comunicação social dificilmente perceberá, mas foi esse o padrão das opções tomadas nas décadas mais recentes. 


Enquanto este “clima mental”, em larga medida, concebido e “amamentado” por este tipo de jornalismo, que faz subordinar factos e realidade, à medida das suas próprias conceções ideológicas e fé militante… Enquanto um povo for - não informado, mas formatado e educado - nesta “realidade paralela socialista”, dificilmente veremos sinais de mudança neste cantinho.


É impressionante como, em pleno Sec. XXI, na suposta era da informação, seja ainda possível conviver com tamanho irrealismo e cegueira ideológica. Repare, no que que toca a socialismo, só se conhecem dois tipos de países ou modelos de sociedade:

     - os fictícios ou utópicos: onde, apoiando-se na desigualdade existente em qualquer sociedade e instrumentalizando os mais desfavorecidos, se formula um modelo que funciona perfeitamente nos discursos e na retórica, garantindo - assim que se “embarque” no processo socializante - um país "igual e fraterno", uma sociedade com um futuro resplandecente, bem à medida de um conto de fadas;

     - os reais: correspondendo aos países e às sociedades, que efetivamente passaram por tal processo, e que apenas têm para oferecer pobreza generalizada, aumento de todo o tipo de desigualdades e assimetrias, violação dos direitos humanos, presos políticos, fome, etc. (ex-URSS, Cuba, China, Coreia do Norte, Albânia, Venezuela,…).


Pessoalmente, o que considero mais curioso - e talvez um dos grandes enigmas (à mistura com angústia e embaraço) do nosso tempo -, é constatar como responde  um esquerdista convicto, por muita formação académica, por mais mestrados e doutoramentos que tenha, quando confrontado com os resultados práticos e consistentes, que o socialismo teve nos inúmeros países onde foi implementado, é qualquer coisa como isto:
 “Na verdade, esse regime não seguiu uma experiência autenticamente socialista!..”… Pois… e ainda dizem que são as religiões que alienam os indivíduos.

Não admira que qualquer “revolução cultural” de matriz socialista, encare com hostilidade a religião – afinal de contas, a "esquerda" tem pavor de
concorrência!


28 dezembro, 2013

É importante distinguir: greves provocadas pelo “roubo e ataque aos direitos dos trabalhadores” e as outras…


Embora não resida em Lisboa, é com interesse que tenho seguido a cobertura mediática da greve de recolha do lixo que aí decorre. Já assisti para cima de uma dezena de reportagens sobre o assunto e não deixa de ser curioso constatar a diferença no tratamento jornalístico desta greve por comparação com outras.

Normalmente, as reportagens sobre greves que passam nos telejornais, são dominadas pela opinião e revindicações, de grevistas. Quando o grau de mediatismo justifica, é recorrente, em reforço da revindicação do sindicalista “especializado” no sector, surgirem ainda os dirigentes das estruturas sindicais nacionais (UGT e/ou CGTP) com a habitual narrativa “trabalhadores Vs governos de direita”. Não é à toa que Arménio Carlos se tornou numa das figuras mais assíduas nos telejornais, logo, das mais reconhecidas pelos portugueses.

 
 
Mas, "estranhamente", nestas reportagens da greve à recolha do lixo em Lisboa, nunca vi um sindicalista expor as razões da mesma. Todas as reportagens, foram dominadas pelo transtorno que a greve causa aos cidadãos e pontuadas por diversas entrevistas de rua onde (salvo raras exceções) estes manifestam a sua indignação pelo prejuízo causado (esta greve é coisa do 3º mundo...).
 
As últimas reportagens, aliás, consistiram em exclusivo na comunicação do presidente da CM (António Costa), designadamente, a dar conta das medidas que está a tomar para minorar o incómodo que a situação origina junto da população e a dar conta da sua perplexidade com a greve, que, segundo ele, não tem qualquer razão de ser.

Penso que esta será a única greve em que, na televisão, não vi um qualquer individuo, mais ou menos exaltado, com uma bandeira ou uma faixa, a vociferar contra “os governos fascistas de direita que roubam os direitos dos trabalhadores!”. E o Arménio & outros, porque não aparecem? Será pelo contexto mediático, pouco "convidativo"?...

Não é, com certeza, por esta greve ser a resposta a decisões de gestão tomadas por António Costa, um dos prediletos do jornalismo militante, que a cobertura mediática não segue o guião habitual.


Não, isto sou eu que vejo conspirações em todo o lado


Nota: não estão em causa as decisões de A. Costa (provavelmente até concordo com as mesmas). O ponto, como sempre, é o duplo critério do jornalismo luso.


27 dezembro, 2013

Manual de Procedimentos T. Constitucional: ITR – Avaliação de medidas de corte de despesa

Caro leitor, você (também) "é daqueles" que não percebe o sentido das decisões do TC?

Não entende, por ex., porque:

     - Existindo a intenção de cortar apenas nos salários dos funcionários públicos, recorrendo a um preceito constitucional denominado “Equidade”, a “lei ordene” que esses cortes também abranjam os salários do privado (não se pode colocar o funcionário público perante tal situação de desigualdade de tratamento...);    

     - Quando se pretende cortar 10% nas pensões dos funcionários públicos, por terem (em média) um regime de aposentação 30% "mais generoso" que o sistema que abrange os trabalhadores do sector privado (convergência possível quando não há dinheiro...), não é possível cortar nesse direito porque viola o princípio da “Confiança” (ou seja, o funcionário público já tinha aquela expectativa e não pode ser defraudada…);

Ou seja, no 1º caso, o princípio da Confiança não se colocou, tendo o próprio TC sugerido implicitamente o corte de salários no sector privado. No 2º caso, a Equidade "é cena que não me assiste" (como alguém diria) não se vislumbrando qualquer impedimento constitucional perante o facto objectivo de estarmos perante um grupo de cidadãos mais privilegiado que outro... 

(Qual “ovo”, qual “galinha”! O verdadeiro dilema parece ser:O que nasceu primeiro: a Equidade ou a Confiança?”)
 
 
Mas, se você suspeita que estes “princípios constitucionais” são usados de acordo com a subjectividade ou a conveniência dos interesses da função pública onde, por coincidência, se inserem os Srs. Juízes do TC, nada disso! A questão é meramente de ordem administrativa e organizacional.

Através de fontes “fidedignas” dentro no Palácio Ratton, o “Jornalismo Assim” teve acesso ao Manual de Organização do Tribunal Constitucional. Assim, em rigoroso exclusivo, reproduz-se a seguir o fluxograma da Instrução de Trabalho “Avaliação de medidas de corte de despesa pública” (revisão Junho de 2011), documento em vigor e que explica a jurisprudência seguida pelos Srs. Juízes nos últimos 2 anos.



 

Como qualquer pessoa minimamente familiarizada com os Sistemas de Qualidade entende, a importância de cumprir com o estipulado nos procedimentos e instruções, é crucial. Os Srs. Juízes,  até reconhecem nos seus acordãos as desigualdades existentes e - em virtude da realidade financeira do país - a necessidade de medidas de alteração mas, como se compreende, o Manual de Procedimentos deixa-os de mãos atadas e ninguém gosta de ser o responsável por uma "Não Conformidade".

Entretanto, está prevista uma nova revisão do documento para meados de 2015… veremos se para 2016 (e anos seguintes) as medidas de corte de salários e pensões, passarão a contar com distinta apreciação jurídico-constitucional...



Há cerca de 1 ano, batizamos 2013 como “O ano da Ressurreição da Constituição” aproveita-se a ocasião para desejar:

Um Feliz, e Constitucional, 2014!

Notas do Fluxograma (clicar na imagem para ampliar):

(1)
Em 2010, governava o partido socialista, foi incluído no OE 2011 um corte entre 3,5% e 10% dos salários da função pública. Note-se, foram cortados APENAS os salários dos funcionários públicos e não os do privado. O TC considerou esses cortes constitucionais em função do ”contexto de emergência financeira"...



Já com o Governo de Passos & Gaspar, o TC veio chumbar o corte salarial (desta vez através dos subsídios) aos mesmos funcionários públicos previsto no OE 2012. A razão invocada prendeu-se então com a violação do princípio constitucional da “Equidade”, designadamente, a existência de uma desigual distribuição de sacrifícios entre sector público e privado.

Recorde-se, nesse momento e ao contrário de 2010, o Estado Português já estava sob resgate financeiro e com objetivos / metas orçamentais assumidas junto dos nossos credores internacionais. No entanto, com critério distinto da decisão tomada em 2010, os Srs. Juízes não terão reconhecido o ”contexto de emergência financeira"…


(2)
Recentemente o TC chumbou as medidas de convergência entre a CGA e o Regime Geral invocando a violação do principio da “Confiança”. Mas a medida agora chumbada, na prática, tem os mesmos efeitos que as alterações introduzidas (e bem…) pelo Governo Sócrates em 2006, tema já abordado neste post de Setembro:

“…com as mudanças ocorridas na sociedade ocidental (e portuguesa em particular), o sistema de pensões tornou-se completamente insustentável e, desde há alguns anos, correcções têm sido introduzidas de forma a fazer convergir o sistema de pensões da CGA com o RGSS (Regime Geral da Seg. Social). Por ex., um funcionário público que se reforma-se até 2005, teria uma pensão superior ao seu último salário (pensão = 100% do salário, mas fazia menos descontos). A partir de 2006, foi introduzido um factor que fez a pensão corresponder a 89% do último vencimento. O corte de 10% nessas pensões que agora se discute, resulta de uma alteração desse factor de 89% para 80%.Actualmente, estudos apontam para que um cidadão activo que hoje tenha menos de 50 anos, tenha no futuro uma reforma de 50% - 40% (quem sabe?...) desse mesmo vencimento.

Mais uma vez, não é o “Estado” quem “paga as pensões”, são os contribuintes que o fazem - melhor - existe um conjunto de contribuintes que paga e outro que recebe.

Assim, pergunta-se: com que "moral" se pode exigir a um grupo de cidadãos que terá uma pensão de 40% do seu vencimento (RGSS), que sustentem os “direitos adquiridos” de um outro grupo que continuará a receber 89% (CGA)? Será “moral” esta desigualdade de direitos entre cidadãos "iguais"? Será constitucional, a manutenção de um grupo de cidadãos de 1ª classe e outro de cidadãos de 2ª?!”


26 dezembro, 2013

A "realidade" mediática será Real?...


(uma breve interrupção no queijo da serra e pão de ló, para) Via Espectador interessado, partilhar mais uma evidência da escola de manipulação do jornalismo militante.


"Da intemporalidade da mistificação e frequente conivência dos media

No Figaro: A l'écran, le leader du parti de gauche semblait entouré d'une foule compacte de manifestants. La réalité est tout autre. (Tradução: "No écran, o líder do partido de esquerda [Jean-Luc Mélenchon] parecia envolto por uma multidão compacta de manifestantes. A realidade é [era] bem diferente"). Agradeçamos ao jornalista holandês Stefan de Vries a evidência fotográfica que proporcionou e que permitiu, por esta vez, recusar a "verdade a que temos direito".

Fotografia retirada daqui


 
Realmente, "há imagens que valem por 1000 palavras" 
 
Lá, como ... (na linha disto, disto, disto...e mais disto.)
 
Boas Festas!
(srs. jornalistas incluídos...)

16 dezembro, 2013

Lesboa, capital dos serviços Vs Norte, berço de fazedores


“À boleia”, de um artigo de Henrique Raposo, prosseguimos com a temáticaDois países


e/ou
do conflito existente entre dois modelos de sociedade em Portugal 

e/ou
da predilecção da comunicação social pelo "Portugal que vive à mesa do Orçamento de Estado" em detrimento do enjeitado "Portugal silencioso".


 
"Quando os nossos magnatas gostavam de fazer coisas
...

"Quando entro na fábrica, sinto o tremer do chão, se as máquinas estão a trabalhar bem. Quando entro no banco não sinto nada".
 
Transmitida a Ricardo Espírito Santo, esta frase de Champalimaud devia estar afixada nos escritórios dos grandes grupos económicos portugueses, grupos que caíram na ladainha asséptica da terciarização, da deslocalização, a ladainha da sociedade sem trabalho mecânico e manual .
 
[...]
 
Quando pensa no conceito de empresário português, a maioria das pessoas tem a tendência para invocar os nomes dos Mello ou dos Espírito Santo. Este automatismo é injusto.
 
A base da nossa economia, a nossa tábua de salvação, continua a malha das pequenas empresas. Não têm apelidos com dois L, não são biografáveis, mas esta gente é o coração da nossa sociedade. É assim agora, foi assim no passado.
 
Nos anos 50 e 60, enquanto Champalimaud fazia fábricas em Moçambique, os pequenos empresários do norte iniciaram a sua integração europeia, exportando para os mercados europeus. Como se sabe, foi este caminho europeu que acabou por triunfar ainda durante o Estado Novo .
 
E, meio século depois, o orgulho made in Portugal continua nas mãos destas formiguinhas nortenhas e europeístas.
"
 
Recordemos, o maior dos desafios que se coloca a este País:
 
"- sabendo nós que a comunicação social desempenha um papel central na ascensão e queda dos sucessivos governos, será possível implementar as mudanças que Portugal precisa, e que passam essencialmente pelo corte nos recursos que sustentaram a riqueza gerada na capital nas últimas décadas, quando será precisamente esse grupo - que domina completamente a agenda mediática e a "opinião pública" - o mais atingido por essas medidas ?" 
 

11 dezembro, 2013

Exportações – a ponta do iceberg da “Narrativa”.


Em virtude da cegueira ideológica das redacções lusas, um dos assuntos onde é mais visível o seu deficiente e enviesado trabalho jornalístico, é o tópico exportações, nomeadamente, a forma como o seu desempenho vai sendo noticiado.


Há 1 ano atrás (final de 2012), na comunicação social, a execução do OE 2013 era uma ilusão em que apenas o governo acreditava. Exceptuando as previsões desses charlatões e no que dizia respeito a exportações – sector apontado pelo actual governo como o motor (a salvação…) da recuperação económica -, todos as “pessoas de bem” eram unânimes:



Outra mensagem recorrente para compor a narrativa, era aquela ideia de que o aumento das exportações que então se verificava, nada tinha a ver com alterações da nossa estrutura económica:
 
Em contraponto a esta narrativa, o OE 2013 elaborado pelos “lunáticos” que actualmente nos governam, estimava uma subida de 3,6% (previsões mais optimistas do que as avançadas por Bruxelas (2,7%), por exemplo).



Outubro de 2013:

Decorrido 1 ano (ao longo do qual o tema foi abordado, por exemplo, aqui e aqui), constata-se que as exportações vão fazendo o seu caminho… 
 
"Em termos trimestrais, os dados do INE revelam que as exportações aumentaram 4,6% no período terminado em Outubro"


Tal como sucede quando qualquer estimativa do governo falha, viram algum jornalista confrontar os autores das previsões de descalabro das exportações com o seu falhanço?...
 
Viram algum comentário em jeito de troça (tão vulgar e característico da “maneira de ser tuga”…) destinado e algum entre os numerosos comentadores “anti-austeridade” que desenhavam os cenários de descalabro e das piores catástrofes para o ano de 2013? Eram as exportações a cair, o desemprego nos 20%, o PIB entre -3% e -4%, o défice que iria ser de 8% ou 9%,...


Claro que não. Aliás, ler algumas notícias sobre o assunto “dá dó”...

“Apesar das exportações nacionais terem crescido apenas 4,2% em Outubro face ao mesmo mês do ano passado, em termos de valor o mês foi o segundo melhor de sempre…”

“Apenas”, diz o sr. jornalista…


A notícia, abordada pelas diversas redacções, é digna de leitura pois, pese embora as variadas chamadas a título sintonizadas com este tom de desapontamento, no seu corpo encontram-se alguns factos que contradizem as ideias inicialmete avançadas, por exemplo:

Excluindo os combustíveis e lubrificantes, as exportações aumentaram 5,5% e as importações diminuíram 0,1% em comparação com o terceiro trimestre de 2012. O saldo da balança comercial, com exclusão deste tipo de produtos, atingiu um excedente de 1,232 mil milhões de euros, a que correspondeu uma taxa de cobertura de 170,9%.”

O ouro e o “pitróleo” da Galp, estão a ver?....
NOTA: Onde o sr. jornalista escreveu 170,9%, deveria ser 70,9%. Enfim, gaffes... quem não as tem, não é?


Enfim, há boas notícias para uma vasta maioria de portugueses, que parecem ser más notícias para outros. E ainda há quem duvide que, dentro das nossas fronteiras, não existam 2 países. 





05 dezembro, 2013

Austeridade, a mãe de todos os males...


Já aqui abordamos a narrativa - todos os dias imposta aos portugueses – que atribui às famigeradas“políticas de austeridade”, toda e qualquer responsabilidade, pela crise e pelas (enormes) dificuldades que os portugueses têm de enfrentar.

A gestão “em prole” do sacrossanto Estado Social e do bendito Investimento Público, que até 2011 foi praticada, em nada contribuiu para isso... Aqui no blog também já demonstramos como em Portugal não se aplica a Lei da Causa e Efeito. Uma decisão hoje tomada, não tem implicações futuras!

Este post vem a propósito de um estudo do Eurostat sobre um dos assuntos mais relevantes do período que atravessámos:

Será que a austeridade está a ser aplicada de forma socialmente justa, i. e., de forma a proteger os mais pobres e desfavorecidos?
Vejamos o que a narrativa do espaço mediático, noz diz sobre isto: 
 

Pois... Mas, quando se constata que estes verdadeiros “crápulas”, estes "políticos de direita que querem destruir o estado social" conseguem, afinal, aplicar a famigerada austeridade sem aumentar o risco de pobreza - aliás, diminuindo esse risco -, o que diz isso dos políticos “bonzinhos” que todos os dias falam em nome dos mais pobres e desfavorecidos?...


05.12.13, Jornal de Negócios:

"Em 2012, a percentagem da população portuguesa em risco de pobreza após transferências sociais era de 17,9%, igual à proporção observada em 2010 e 2009, mas marginalmente inferior aos 18% apurados em 2011."
 
 

29 novembro, 2013

Ainda o encontro da Aula Magna…


(Em complemento deste post, “O espírito de Salazar esteve na Aula Magna.”)

Já lá vai um tempo, desde que Mário Soares e a “esquerda” que o acompanha, perceberam que a chave para a queda do governo está "na rua". Desde então, não há intervenção pública sua em que o tema da violência e da agitação, não estejam presentes.


 
Jornal i, Abril de 2013


Muitas vozes “à esquerda”, têm negado que exista um “apelo à violência” nestas iniciativas (e de facto, não existiu um incitamento explicito), mas, alguém acredita que é inocente esta ideia recorrentemente transmitida afirmando que a ocorrência de actos de violência seria algo "natural" e legítimo, nas actuais circunstâncias?

Estivessem os papéis invertidos (ps no governo e psd na oposição) e uma figura de direita viesse dizer as coisas que Soares diz, teríamos a comunicação social inundada de “virgens ofendidas”, jornalistas e comentadores, indignados com a linguagem imprópria para uma democracia ocidental, com a irresponsabilidade de inflamar uma situação que, já de si, é um “barril de pólvora”, blá, blá, blá…


O “Com Jornalismo Assim, quem precisa de Censura”, mostra-lhe o que nunca verá no telejornal e orgulha-se disso!

Felizmente existe o Google, porque, se formássemos opinião apenas pelo que passa nos telejornais e vem escrito nas manchetes... Em 2010, quando começaram a ser tomadas medidas de austeridade do governo de Sócrates, a contestação na rua começou (o ano de 2009 foi de feição para os funcionários públicos...). Qual era a posição de Soares sobre o assunto? 
 
Abra o link (video) seguinte, e observe o que tinha o chefe do clã socialista a dizer sobre dois temas centrais da actualidade: por um lado, o efeito das políticas de austeridade, por outro, o que Soares achava daqueles que fomentavam greves e manifestações, em oposição às medidas do governo PS de então:
 
"[em 83] Fui capaz de retirar o 13º mês! Eu fiz porque era indispensável fazer! E foi isso que deu o boom, que veio a seguir, nos governos quando entramos para a Europa!..."
 
É muito simples, caro cidadão: a austeridade de Soares - a austeridade socialista -, é expansionista (repare no orgulho de Soares quando refere o seu feito), são cortes "fofinhos"... já a austeridade "de direita", essa é maléfica, recessiva, e pode conduzir-nos de volta à ditadura...

Mais do pensamento de Soares...

 
"Comecem a fazer greves, a pedir mundos e fundos - que não podem ter, ninguém lhes pode prometer -, que vamos parar... olhe, vocês vão ver onde é..."
 
Em resumo: se for o PS a governar, resignem-se; se for o PSD, revoltem-se…
 
 
Jornalistas e redações, continuam a venerar o Sr. Soares, mas em função desta total incoerência não é legítimo concluir que estes eventos – que contam sempre com uma generosa cobertura mediática - são, essencialmente, autêntica guerrilha política e têm como principal propósito político, promover a contestação na rua?

Voltando as “mundos e fundos” que se reuniram na Aula Magna - seria mesmo a “defesa da democracia”, a defesa dos “mais pobres e desfavorecidos”, que esteve ali em causa, ou seria a resolução dos “seus próprios” problemas?


Sobre o jornalismo português, a tristeza habitual… sempre tão atentos e vigilantes em relação a contradições de Passos, Cavaco, Machete (enfim, desde que seja “de direita”...). Sempre a escrutinar cada frase e a “esgravatar” intervenções anteriores em busca de contradições para que os cidadãos possam ver às 20h no telejornal, mas, em relação a políticos “de esquerda”, aquela subserviência e passividade habitual…
 
Interroguem-se: porque será que os telejornais nunca mostram o que dizia Soares quando era PM (com o FMI) ou as posições que defendia quando o governo de Sócrates inaugurou a “era da austeridade”? 
 


A narrativa, não podemos comprometer a narrativa! Não vá o cidadão começar a pensar pela sua propria cabeça...
 
Esta é a grande brecha do jornalismo português - a falta de isenção. E nenhuma democracia pode ser saudável sem uma comunicação social independente e ideologicamente imparcial.
 


27 novembro, 2013

Lições de vida socialista: A vítima, é a cigarra.


Um dos argumentos às vezes esgrimidos por políticos do PS (e até por alguns comentadores…) para desculpabilizar a gestão socialista entre 2005 e 2011* - que culminou com o pedido de ajuda à Troika e cujos efeitos estão aí para durar... -, é a invocação de alguma responsabilidade imputátel às instituições europeias por, alegadamente, terem incentivado as políticas seguidas.
 
É sobre (mais) esta falácia, usada com alguma frequência na agenda mediática, que hoje vamos falar.

Este post surge na sequência de uma troca de opiniões com RCAS, um comentador habitual na caixa de comentários do Blasfémias.

NOTA: Um cumprimento especial a RCAS pela forma educada e cordata, como expõe as suas opiniões. Só para exemplificar, deixo 2 comentários com que fui “presenteado” nas últimas 24h: “És boy do Passos e pagam-te para isto ou és só mais um idiota inútil ??” ou “Jornalismo assim és filho de nazi e Pide dá um tiro nos cornos.”…     

RCAS, em defesa da gestão socialista, tinha referido os défices públicos reduzidos nos anos de 2006 e 2007. Repliquei, referindo a massiva desorçamentação (imagem de marca de Sócrates, já aqui abordada), assim:

”…a muita despesa inscrita no OE que foi sendo transferida para empresas públicas (área dos transportes, saúde, estradas de Portugal… a era dourada dos swap), fundações (negócio do Magalhães, por ex.) e outras entidades.

Como [RCAS] bem disse, foi sendo feito investimento com impacto positivo na economia, mas também como o caro RCAS sabe, essas obras foram lançadas com um período de carência de 5 anos. Ou seja, o empreiteiro com dinheiro da banca (bem remunerado, claro…), fez a obra e só 5 anos depois o Estado começa a pagá-la… Isto é, injeta-se dinheiro na economia, criam-se um postos de trabalho, cobram-se uns impostos, fazem-se belas festarola para inaugurar a obra e passar no telejornal… 5 anos depois (2012 para a frente) ficam auto-estradas onde não passa ninguém, as portagens, mais desemprego e é altura de pagar a obra!

Repare RCAS, se o défice real fosse efetivamente o que menciona no seu comentário (2,8%) como explica que entre 2005 e 2010 tenha sido acumulada uma dívida superior a 90.000 milhões €?!”



A resposta veio assim:  

“O meu amigo não deixa de ter uma certa razão, na transferência de despesa para as empresas públicas! esta criatividade, só foi possível pelas regras do Eurostat vigentes até aí, tendo permitido até esse momento que todos os governos pudessem se quisessem ser criativos!

Quando em 2010 o Eurostat mudou as regras, o défice previsto que era de 6,8 passou imediatamente com a alteração das regras para 9,1!”

Ora, esta imputação de "culpas" às instituições europeias, faz tanto sentido como aquele ladrão que se desculpa com um assalto, porque o dono da casa deixou a janela aberta!

Vejamos, Portugal e os restantes parceiros europeus, aquando da entrada para o euro, comprometeram-se com o cumprimento de duas regras essenciais: os Estados Membros tenham um défice orçamental anual não superior a 3% do PIB e uma dívida pública abaixo de 60% do PIB (Critérios de Convergência de Maastricht).

O que fizemos nós, portugueses, relativamente a este compromisso? A frase “Há mais vida para além do défice”, resume tudo…

Queixamo-nos que alemães e nórdicos, “olhem de soslaio” para o Sul da Europa: mas, caramba!, que outra conclusão poderão eles tirar?! Se até o Presidente da República (Sr. Sampaio) fez, na prática, “letra morta” de compromissos assumidos internacionalmente pelo País, se permitimos que a dívida fosse crescendo 10% ao ano e nunca cumprimos com qualquer meta de défice, aliás, se mesmo os défices “oficiais” que cumpriam esse critério, fizeram-no à custa de truques contabilísticos! (por muito que custe reconhecê-lo...)

Esta é a realidade. Por isso, voltando ao comentário de RCAS e à “mudança de regras” do Eurostat - não existiu qualquer mudança de regra! O que existiu, foi uma alteração de método de contabilização dívida (mais) “à prova” das manigâncias financeiras que portugueses e gregos, se especializaram em fazer.
 
O buraco a diferença entre despesa e receitaesteve lá sempre!

Dentro desta linha de raciocínio do "défice que cresceu porque o Eurostat mudou as regras”, para desculpabilizar a pilha brutal de dívida deixada pelo consulado socrático, também é frequente ouvir ilustres comentadores referirem que as opções então tomadas pelo governo socialista*, contaram com o encorajamento da Comissão Europeia e do seu “apelo a mais investimento público para combater a crise”.  

Também aqui é preciso contextualizar e recordar que o mesmo tratado subscrito por Portugal, prevê a possibilidade de serem temporariamente aceites défices superiores aos 3 %, designadamente, em caso de recessão. É, obviamente, neste contexto que se inseria o apelo ao investimento, feito aos estados membros pelas instituições europeias. Ouviram algum responsável europeu dizer, que o défice e a dívida, deixaram de ser importantes?!
 
Infelizmente, porque não fizeram o seu “trabalho de casa”, alguns países não estavam em condições de o fazer e, como no conto da formiga e da cigarra, ficaram completamente expostos à crise… 

Podemos criticar a lentidão e a hesitação como que as autoridades europeias responderam à crise, mas, atribuir a essas entidades a responsabilidade pelos desastres financeiros como as PPP rodoviárias, o Parque Escolar, o Aeroporto de Beja e outros, denota uma irresponsabilidade muito nossa, muito portuguesanão temos obrigações e deveres, só direitos.

(uma boa parte, consagrados constitucionalmente...) 

* O autor deste blog entende que Sócrates, embora não sendo o “culpado de tudo”, é o principal responsável pela atual crise.


25 novembro, 2013

O Jornalismo não constrói narrativas! A comunicação social é neutra e não influencia a opinião dos cidadãos… pois!

 
Um texto de Ferreira Fernandes no DN, que, a partir de eventos similares - pela simples forma como mediaticamente os assuntos / acontecimentos  são abordados e pelos termos em que a discussão pública em torno dos mesmos é contextualizada pelos media -, demonstra e nos ajuda a refletir, sobre o papel e o enorme poder que a comunicação social detém, relativamente à forma como os cidadãos percecionam a "realidade" a constroem a sua opinião.
 
 

"Em 1994, Florence, de 19 anos, e Audry, de 22, casal de anarquistas parisienses, cansaram-se de simples conversa radical. Com carabinas assaltam dois polícias para lhes roubar as pistolas. A ideia era atacar bancos, como "Bonnie and Clyde" e assim.
 
O assalto aos polícias corre mal, têm de fugir, entram num táxi mas o taxista choca com um carro policial. Os cabeças quentes matam dois polícias e o taxista. São perseguidos, matam outro polícia e Audry também é morto. Meia hora, cinco mortos. A foto de Florence, olhos desafiadores, fascina a opinião pública. Nasce uma lenda.
 
Os jornais (o Libération, jornal de causas, à cabeça) atiçam a fogueira da romântica anarquista (virão depois romances, filmes, bandas desenhadas). A heroína, calada durante o seu julgamento, eclipsa as viúvas dos polícias e do taxista, que ficarão sem resposta sobre o porquê da tragédia. Foi há 19 anos.
 
Esta semana, um tipo entrou no átrio do jornal Libération, deu dois tiros num fotógrafo, que ficou em coma, saiu e deu mais tiros à fachada de um banco. O jornal entrou em transe: "Nós continuaremos!", disse o diretor, como se a liberdade de imprensa estivesse em causa. Primeira linha do editorial: "Horror absoluto", como se fosse Auschwitz... Ironia: o atirador foi o cúmplice que arranjou as carabinas a Florence e Aubry, em 1994. Um pobre diabo, com as mesmas ideias baralhadas.
 
Mas desta vez os jornais, pelo menos o Libération, não vão cair na tentação de romantizar a coisa."
 
 
 

22 novembro, 2013

O espírito de Salazar esteve na Aula Magna.


Como classificar alguém que, tendo 15% dos votos, fala "em nome dos portugueses" e exige que quem foi eleito com mais de 50%, se demita?!


Como classificar a extrema-esquerda portuguesa que, representando cerca de 5% do voto popular, fala "em nome dos portugueses" e exige que os partidos que alcançaram maioria nas urnas, se demitam?!


São estes srs que se reuniram na Aula Magna que, entre apelos à violência umas larachas sobre patriotismo, vêm dar lições sobre democracia e alertar os portugueses que caminhamos para uma ditadura?!

Salazar, é que achava que o povo português não tinha o discernimento suficiente para saber o que era melhor para si – ele, e os “patriotas” que o rodeavam, ACREDITAVAM genuinamente que salvaguardavam melhor os interesses dos portugueses que os próprios - esta ideia foi o alicerce do Estado Novo!

Em vez de reconhecer e corrigir os problemas que nos trouxeram até esta crise, é mais provável que Portugal - pela cegueira ideológica de meia-dúzia de iluminados e de uma “pseudo-elite” da capital – caminhe para um buraco, para uma tragédia grega.


 Isto sim, faz-me pensar
se não será melhor emigrar…
 
 

Será que o povo português merece votar?


Soares, teve 15% dos votos. Fala "em nome dos portugueses" e exige que quem foi eleito com mais de 50%, se demita.


Ainda há dias, o querido líder da esquerda portuguesa, afirmava que não sente qualquer "inclinação por voltar a depender do voto popular”.


A extrema-esquerda, representa cerca de 5% dos votos. Fala "em nome dos portugueses" e exige que aqueles partidos que alcançaram maioria nas urnas se demitam.


São estes mesmos senhores que, entre apelos à violência, se afirmam como patriotas e alertam os portugueses que caminhamos para uma ditadura… a ameaça, claro está, vem da “direita reacionária”.  



Não, isto não faz lembrar o PREC… tal como muitos outros factos que não constam dos Manuais Escolares (há uma narrativa a manter…), a Monarquia foi destituída pelos republicanos quando estes representavam apenas 9% dos votos a nível nacional (eleições de Agosto de 1910, 3 meses antes da revolução).


Os Republicanos apenas eram maioritários na capital, mas contavam (lá está!...) com a classe intelectual, nomeadamente, os jornalistas e outros que controlavam a comunicação social da época.

Tempo para revisitar este post sobre o conflito entre a “elite” da capital Vs o Resto do País:

“Há uma parte do País que ficou suspensa na "quimera do 25 de Abril", nos ideais e conquistas que, apesar de muita revolucionária, nunca se concretizaram. Essa facção, órfã de uma espécie de “Sebastianismo Abrilista”, está fortemente enraizada na capital e continua a dominar uma parte importante do aparelho centralista do Estado, com o qual se entrelaça e onde angariou os seus privilégios.”
 
 
 

21 novembro, 2013

Mais um que passou para o Lado Negro da Força… Darth Bernardino


Um dos motes do blog é demonstrar, ao contrário do que o jornalismo militante quer fazer crer, que as opções ideológicas só são viáveis se forem compatíveis com as regras da matemática.
 
Sejam de esquerda ou de direita, quando as DESPESAS superam em muito as RECEITAS, os decisores só podem optar por cortes ou impostos…

 
 
 
Isso (condicionantes) não existe Bernardino, as medidas que tomamos apenas dependem das opções ideológicas de cada um! Aprendemos isso contigo, com o PCP!


“"Existem muitos compromissos que já deviam ficar pagos este ano, mas que terão de transitar para 2014. A dimensão dos compromissos é tal que é impossível dar conta de tudo em 2013",”

Bernardino, ensinaste-nos que os compromissos e a “herança” não são desculpa! Pensei que isso era o que a malta do PS e do PSD fazia…
 
Quantas vezes no parlamento, a propósito de medidas de austeridade e cortes de despesa, ouvimos Bernardino a falar em “roubar”, “mentir”, etc..
 
Nesta entrevista ao Avante, dizia assim Bernardino:
“…temos a vantagem de defendermos o mesmo no plano local e nacional. Não temos duas caras.
 
Encontramos muitos sentimentos de descrédito na política, na alternância PS/PSD/CDS sempre agravando as políticas, nas promessas não cumpridas. Mas quase sempre as pessoas não misturam o Partido e a CDU nesse descrédito. E isso faz com que, nestas eleições, a CDU seja também uma esperança para tantas e tantas pessoas que, fartas de serem enganadas, sabem que somos diferentes.”



Pois... bem vindo ao Mundo Real Bernardino. Ou devemos dizer, Darth Bernardino…

20 novembro, 2013

Ser mediaticamente correto… é disto que o meu povo gosta!

 
Da homília do Domingo passado, a propósito de uma pergunta sobre o sistema de avaliação de professores proposto por Nuno Crato, analisemos a resposta / comentário de Marcelo Rebelo de Sousa.

 
 
Começou assim:
“A ideia de haver avaliação no início e no acesso à carreira docente, para se ser professor, tem lógica.



 
“O haver avaliações periódicas tem lógica

“O haver condições acrescidas de avaliação contínua, tem lógica…”


Ora bem, por esta altura do comentário pensei: “esta pessoa só pode estar de acordo com a prova de avaliação proposta pelo Ministro Crato”. Tem lógica!...

Mas não, logo a seguir Marcelo (como se pode constatar no vídeo) atira com uma série de argumentos (porquê agora, será no Natal...) e termina a concluir que ”a medida pode ser injusta e discriminatória com alguns professores”. 
 
Este pequeno episódio ilustra bem a forma como o comentário político, a discussão e a análise dos assuntos na comunicação social, é feito de forma condicionada.


Note-se que, mesmo aqueles comentadores que estão de acordo com o sentido que norteia uma determinada decisão, em vez de afirmar perentoriamente que a medida é positiva (podendo discordar deste e daquele ponto), por ela ser impopular e – sobretudo - dissonante da corrente “mediaticamente correcta”, optam pela solução mais confortável, isto é, dizer aquilo que o “jornalismo quer ouvir”…


Neste caso concreto, por ex.: então um jornalista verdadeiramente interessado numa opinião bem fundamentada sobre a medida, para que os cidadãos sejam melhor esclarecidos, não deveria interrogar Marcelo sobre a evidente contradição entre a abordagem inicial à questão e a forma como concluiu o seu comentário?!


Não, o objetivo não passa por aí, como podemos observar, as intervenções de Judite apenas se focalizam na obtenção comentários que evidenciem desacordo e oposição, à medida:

 “Portanto é uma medida injusta?”  Ouvida a resposta pretendida, garantida a habitual narrativa anti-governo, assunto encerrado, venha o próximo!


Sobre o assunto em concreto, o que ficaram os espectadores a saber? Apenas que, “em teoria”, a medida é boa mas, na prática é “injusta e discriminatória”... É este jornalismo que esclarece os cidadãos? Claro que não, mas isso não interessa. O importante não é informar, é doutrinar.  

Tal como sucede nesta situação, em que Marcelo diz “assim não”, mas não avança com "o seu" sistema de avaliação “à prova” de injustiças e discriminação (existirá algum?...) -, uma infinidade de problemas que o país enfrenta, é sujeito ao mesmíssimo tratamento mediático.

Como aqui no blog repetidamente se demonstra, existe uma pressão dos media que delimita as correntes que são politica e ideologicamente “bem vistas”, e as que não são. Não é necessária uma análise muito atenta à agenda mediática, para constatar que, de acordo com o posicionamento assumido por cada individuo face a essas correntes, temos um tratamento mediático selectivo que temos abordado na categoria “Filhos e Enteados”:

    - relativamente ao que vem da “esquerda”, predomina uma bondade no tratamento mediatico, designadamente, a total ausência de escrutínio e contraditório do que é dito (Soares, Costa, Dilma Roussef… );

     - já em relação ao que vem da “direita”, a hostilidade impera, e as frases e o posicionamento deste conjunto de personalidades, tem de enfrentar um contraditório jornalístico implacável e, não raras vezes, a manipulação do que é dito através da distorção do contexto em que essas posições / frases foram proferidas (basicamente, qualquer pessoa que se identifique com a direita… I. Jonet, Soares dos Santos, Ulrich, César das Neves, etc.);


Este jornalismo militante, que faz questão de demonstrar o que é “mediaticamente correto” dizer, aliado à circunstância de toda a gente quer “parecer bem” na televisão, provoca  uma uniformização da corrente de opinião nos jornais, rádio e televisão. Paralelamente, vai-se formatando a opinião pública à medida da sensibilidade e pensamento do grupo resrito que controla a agenda mediática: jornalistas e redacções.


Neste país, com uma comunicação social claramente alinhada “à esquerda”, qualquer medida tomada por um governo “de direita”, é imediatamente arrasada. Nos destaque e manchetes, apenas a posição e voz dos elementos cujos interesses são afetados, se faz ouvir . Entretanto, aproveitando a onda de indignação, temos os chavões dos mesmos de sempre a dizer que havia "outro caminho”, que havia “uma alternativa” e – claro - sem cortes, sem sacrifícios, sem dor.

Sobre qual seria esse caminho alternativo, nem um pio (tal como no comentário de Marcelo). Nos telejornais, graças ao “wishfull thinking” das redações, a realidade concreta vai sendo substituída por uma realidade paralela onde, por vezes, até parece que os problemas não existem, que é o governo que os cria, para levar a cabo a sua própria agenda...


Com uma informação mais assente em comentários e opiniões de conveniência do que em factos concretos, vai-se formando uma “opinião pública” contrária a qualquer mudança e reforma. Aos cidadãos, vai-se transmitindo a ideia que uma dada decisão, em vez de inevitável, só é necessária porque A e B o desejam (cortes, por ex.), só avança para agradar ao grupo x e y, que a medida só vai agravar o problema, etc., etc…


É o contexto perfeito para a proliferação dos políticos oportunistas.
 

Quando o actual governo cair e um novo governo chegar, fará sensivelmente o mesmo que o anterior e nada do que prometeu na oposição, lá teremos “o povo” a lamentar-se que “foi enganado” pelos políticos. A comunicação social que, em tom pesaroso, continuará a dizer que cada vez “a democracia está mais pobre”…
 
Será assim? Será que o apenas os políticos que “enganam” o povo?

Não será que aqueles que têm por missão informar os cidadãos, também têm grandes responsabilidades neste processo?