22 outubro, 2016

O que faz falta, é taxar tanto chico espertismo…


AH! Que belo ar se respira sem a atmosfera pesada da austeridade… Entenda-se que, fim da austeridade, é a devolução imediata do vencimento ao bolso dos funcionários públicos. Nem que a opção seja cortar cegamente nos equipamento e utensílios básicos para prestar os serviços públicos, como está a suceder na saúde ou nos transportes, por exemplo.


Aliás, esta é a questão de fundo da opção política da actual coligação: servir as suas clientelas, basicamente, quem vive do Orçamento de Estado e vota.

Será isto sustentável? Só os tolos podem acreditar. Vamos por partes:


Devolução de rendimentos: o que estava subjacente ao “programa” de Costa era a redução de impostos, nomeadamente, a alteração dos escalões de IRS. Palavra dada… palavra desonrada. Os trabalhadores do Estado (como os outros) não tiveram qualquer redução de impostos. Assim, por cada 1% devolvidos, as taxas de retenção e o apuramento final de imposto, estão a reclamar mais de metade dessa devolução. Aliás, o OE2017 é exemplar nesse capítulo: ao actualizar os escalões (bem) abaixo da inflação, fará com que esse rendimento volte aos cofres do Estado para, no momento seguinte, voltar a ser emprestado aos bolsos do diligente funcionário.


Impostos indiretos: Combustíveis, IMI, Coca-cola, vinho, balas, atualização da taxa audiovisual.... No comments! Aliás, tentemos ver um pouco além da propaganda: se os rendimentos são devolvidos mas o consumo não cresce. O consumo não cresce, mas a poupança mantém-se praticamente inalterada, para onde estará a ir o rendimento?!          


Investimento (público e privado): se a unanimidade maior entre os partidos de esquerda é não deixar a direita governar, a segunda unanimidade seria a subida imprescindível do investimento público - Palavra dada… palavra desonrada! Nunca se viu semelhante travagem do investimento público. Note-se, nos anos recentes, já não havia Parque Escolar, PPP rodoviárias, TGV, eólicas e outros investimentos ruinosos. Estamos a falar de cortes que incluem a não reparação de equipamentos nos hospitais ou cortes que resultam no esgotamento de bilhetes para o metro!


Mais uma vez, aqui reside a opção de fundo deste governo – privilegiar a compra do voto do funcionário público, sacrificando os que, pagando cada vez mais impostos para sustentar um Estado obeso, vão passar a ter piores serviços! Acresce que a não realização deste tipo de investimento, é uma desorçamentação. Mais tarde ou mais cedo, têm de ser substituídos ou reparados esses equipamentos. A não ser que a visão do Estado "pós austeridade" seja termos edifícios públicos como meros depósitos de funcionários. Começa a cheirar a Brasil e Venezuela…


Outra aldrabice que vejo Costa, e restante trupe, repetirem incessantemente refere-se ao crescimento do investimento privado: qualquer pessoa (com o mínimo de bom senso) sabe quantos anos são necessários neste país, desde o momento em que se decide um investimento, até que esse mesmo investimento chegue ao terreno.

O investimento em curso atualmente, é fruto de decisões tomadas há 2 - 3 anos atrás! E ainda se gabam de serem os responsáveis pelo impacto dessa atividade no emprego… faz falta um imposto sobre tanto chico espertismo. O impacto das políticas da geringonca no investimento, só se farão sentir dentro de 2, 3 anos!


Só a propaganda e colaboração dos media (das notícias desapareceu a fome, a emigração, a miséria, etc.), impede o “cidadão normal” de ver que a breve prazo isto vai dar errado. A opção de privilegiar o bolso do funcionário público à custa do investimento afetará, inevitavelmente, a parte da economia que gera riqueza. Quantos meses aguentarão as empresas que fornecem os hospitais, empresas de transportes, escolas, etc.?


Na minha região, por decisão deste governo, foram cancelados investimentos em obras de ligações rodoviárias importantes e há muito esperadas – não eram scuts, note-se. Trata-se de um belo exemplo da consequência das opções nesta era “pós-austeridade”, o impacto dessa decisão: deixaram de se criar largas centenas de empregos, oportunidades de negócio para novas empresas e a dinamização da actividade económica na região pela significativa redução do tempo de viagem entre os municípios da zona.


A opção de devolver à pressa os vencimentos de quem trabalha para o Estado, trará mais crescimento, mais emprego e poderá gerar mais riqueza do que a realização do investimento que estava previsto?


Lembram-se da Grécia?