"...Aqui chego, ou regresso, à ideia de sermos muitas vezes “dois países”, já não os que Orlando Ribeiro descreveu, se bem que neles permaneçam alguns dos seus traços. Para ir directo ao assunto de uma forma porventura brutal e simplista, tivemos nestes anos um país que se queixou e foi muito vocal, e um país que tratou de fazer pela vida, de “se virar” o melhor que podia, um país que percebeu muito depressa que tinha de alterar os seus hábitos de consumo (e por isso a recessão foi maior do que esperava) mas, ao mesmo tempo, um país que procurou desenrascar-se e improvisar, que saiu do seu conforto e assumiu mais riscos (e por isso assistimos a coisas tão surpreendentes como a radical transformação do centro de cidades como Lisboa ou o Porto ou descobrimos uma insuspeita capacidade para exportar e ir, de novo, à conquista do mundo).
Haverá – há de certeza – um lado redutor neste retrato e nesta dicotomia, que vale sobretudo como uma possível chave de leitura. Mas, ao mesmo tempo, há algo que não é de forma alguma uma caricatura, e essa é “a realidade a que temos direito” – ou seja, o país dos telejornais, das greves do Metro e do omnipresente Mário Nogueira, do caos numa urgência transformado no caos de todo o Serviço Nacional de Saúde, o país das comissões de utentes saídas nunca se sabe de onde e dos bastonários na pele de “passionárias”, o país que fala da “lista VIP” mas não se incomoda com o Estado intrusivo e os seus funcionários abusadores (mas sindicalizados), o país dos talibãs das redes sociais e da guarda pretoriana do politicamente correcto."
Mais sobre uma das temáticas prediletas aqui do blog - o “tabu” do conflito entre dois modelos de sociedade e de desenvolvimento existentes em Portugal:
“Do "Portugal silencioso"...
À custa desta estrutura, sustentada com os impostos de TODOS os portugueses, cresceu uma economia "pseudo-privada": um sector de serviços ancorado nos gabinetes de "grandes" advogados & seus pareceres, nos escritórios da banca e das consultoras internacionais, das administrações das empresas públicas e das ex-públicas (edp, pt, galp...) que, mesmo anos depois da sua privatização, continuaram com as benesses e os monopólios que só a proximidade (promiscuidade...) com o poder lhes garantiu (e garante)..."
“Portugal, Lisboa e o Resto do País - 1ª Parte.
Há uma parte do País que ficou suspensa na "quimera do 25 de Abril", nos ideais e conquistas que, apesar de muita fé revolucionária, nunca se concretizaram. Essa facção, órfã de uma espécie de “Sebastianismo Abrilista”, está fortemente enraizada na capital e continua a dominar uma parte importante do aparelho centralista do Estado, com o qual se entrelaça e onde angariou os seus privilégios.
Há uma parte do País que ficou suspensa na "quimera do 25 de Abril", nos ideais e conquistas que, apesar de muita fé revolucionária, nunca se concretizaram. Essa facção, órfã de uma espécie de “Sebastianismo Abrilista”, está fortemente enraizada na capital e continua a dominar uma parte importante do aparelho centralista do Estado, com o qual se entrelaça e onde angariou os seus privilégios.
..."
"O “elefante no meio da sala” que os profissionais da indignação nos media ignoram…
Num País onde muito se fala sobre solidariedade - especialmente neste período mais recente, em que frequentemente se aponta aos países mais ricos (como a Alemanha) o facto de não ajudarem os mais pobres -, é curioso que o tema das disparidades regionais de riqueza em Portugal sejam quase um tema tabu.
Face a este "Estado da Nação", ninguém na comunicação social se interroga: porque será que aqueles que mais riqueza produzem são, simultaneamente, os mais pobres?!"
"O “elefante no meio da sala” que os profissionais da indignação nos media ignoram…
Num País onde muito se fala sobre solidariedade - especialmente neste período mais recente, em que frequentemente se aponta aos países mais ricos (como a Alemanha) o facto de não ajudarem os mais pobres -, é curioso que o tema das disparidades regionais de riqueza em Portugal sejam quase um tema tabu.
Face a este "Estado da Nação", ninguém na comunicação social se interroga: porque será que aqueles que mais riqueza produzem são, simultaneamente, os mais pobres?!"
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