Observei com atenção, desde a noite de 6ª feira ,a cobertura mediática sobre o acordo alcançado na última reunião do Eurogrupo. Em resumo, um cidadão que forme a sua opinião essencialmente pelo que vê nos telejornais, dificilmente reterá algo diferente das seguintes ideias chave:
- O acordo foi uma vitória para o Syriza;
- O Governo português tentou obstaculizar esse acordo. Ou seja, de alguma forma, este acordo constitui uma derrota para Passos Coelho.
- A posição do Governo português é vergonhosa pois “são mais alemães que os alemães”.
Considerando a missão de informar com rigor, serão estas as ideias que melhor traduzem o que se passou ou apenas refletem e confirmam o fascínio do nosso jornalismo pela esquerda radical?
Recordemos a posição inicial – as exigências, será o termo mais adequado - dos gregos e o que foi acordado na noite de 6ªfeira:
Renegociação da dívida vai avançar? Parece que não consta do acordo a realização da “Conferência sobre a dívida”, aliás, parece que os gregos planeiam pagar a totalidade da mesma.
Medidas como o aumento do salário mínimo e a readmissão de funcionários públicos também não saíram dos anúncios. No “mundo real”, os gregos comprometeram-se a “a não recuar nas medidas de austeridade em curso, ou a tomar decisões sobre politicas e reformas estruturais, sem consultar as instituições europeias”
Ainda no início da semana, Tsipras garantia que não existiria pedido de extensão do programa “nem com uma pistola encostada à cabeça!”. O pedido de extensão seguiu na 5ª feira seguinte…
Ou seja, os atuais representantes gregos recuaram em praticamente tudo! As únicas vitórias do Syriza foram a substituição de palavras como “austeridade” e” troika”, por, “reformas” e “instituições”, respetivamente.
Embaraço, vergonha, indignidade e contos de crianças…
Pessoalmente, sinto vergonha e embaraço, mas de viver num país onde a comunicação social alinha com os delírios da esquerda radical, manipulando e insultando a inteligência dos cidadãos enquanto faz propaganda de uma mensagem completamente desfasada da realidade.
Até uma criança percebe que, se alguém recuou neste acordo, se a posição de alguém foi derrotada, foi a posição assumida pelo Syriza…
Uma mentira mil vezes repetida, transforma-se em verdade…
Logo que o Syriza tomou posse e anunciou as suas prioridades, Passo Coelho referiu-se a elas desta forma:
"É sabido que o programa do partido que ganhou as eleições é difícil de ser conciliado com aquilo que são as regras europeias. O meu desejo é que seja possível conciliar, porque nós reconhecemos o enorme esforço que os gregos fizeram e esperamos que a Grécia se possa manter como um parceiro europeu da mesma moeda e da União Europeia. É esse o meu voto sincero",
Acrescentou, sobre os compromissos europeus em termos de controlo orçamental que o Governo grego "exerça nas suas competências tudo o que está ao seu alcance para conciliar as necessidades de crescimento que a Grécia tem com a necessidade também de cumprir as regras - que são regras que não foram desenhadas especialmente para a Grécia, são regras que são válidas para todos os países europeus".
Sem essas regras, a Europa desintegra-se", excluindo a via do seu incumprimento: "Isso não existe. Se existisse, não havia nenhum Governo que não seguisse esse caminho. Esse caminho não está disponível para a Grécia, como não está disponível para nenhum outro".
E concluiu, apelidando de "conto de crianças" a ideia de que "é possível que um país, por exemplo, não queira assumir os seus compromissos, não pagar as suas dívidas, querer aumentar os salários, baixar os impostos e ainda ter a obrigação de os seus parceiros garantirem o financiamento sem contrapartidas". Destas declarações, passou a ver-se sistematicamente repetido na agenda mediática com a distorção e o desdém habitual (nada do que PPC diz tem credibilidade ou consistência…), a seguinte ideia: Passos afirma que programa do Syriza é um “conto de crianças”.
Vejamos, entre Passos Coelho e os que defendem que “é o Syriza quem defende os interesses dos portugueses” e considerando o conteúdo do acordo alcançado no Eurogrupo, quem terá razão e quem será que defende uma posição “fora da realidade” ou de "conto de crianças"?...
A comunicação social é a verdadeira oposição. Como é possível que os delírios da esquerda radical e a posição política de uma pequena percentagem de portugueses, seja a que domina a narrativa mediática?!
Pessoalmente, não tenho dúvidas: Esta comunicação social não é um conto de crianças, é um autêntico conto do vigário!
“O espaço mediático atual, será o espelho da sociedade portuguesa e traduzirá de forma isenta as diferentes correntes e sensibilidades existentes?
Ou será que esse espaço, negligenciando a missão de informar de forma isenta e, não raras vezes, menosprezando até o pensamento e as convicções da maioria, empenha-se, suportado nas convicções de uma minoria alinhada com o “wishfull thinking” do jornalismo militante, num exercício diário de doutrinação da “população” com os seus próprios valores?”
Ou será que esse espaço, negligenciando a missão de informar de forma isenta e, não raras vezes, menosprezando até o pensamento e as convicções da maioria, empenha-se, suportado nas convicções de uma minoria alinhada com o “wishfull thinking” do jornalismo militante, num exercício diário de doutrinação da “população” com os seus próprios valores?”
P.S.: Este post foi escrito no Domingo à tarde e reporta-se ao tratamento informativo que pude observar nos telejornais entre a noite de 6ªfeira e o almoço de Domingo. Só na noite de Domingo, vi um tratamento jornalístico mais equilibrado, onde passaram a ser referidas as cedências e recuos dos gregos...
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