01 dezembro, 2014

Da presunção de inocência… nas previsões económicas.


Tal como em outros aspectos, o espaço mediático revela ter uma relação complicada com a "presunção de inocência"… Já aqui abordamos situações onde, em função da “proveniência ideológica” de determinada medida ou propósito, o assunto é olhado com grande desconfiança ou com grande bondade.

O que aqui no blog se convencionou designar “Esquerda boazinha Vs Direita maléfica".

Um desses exemplos, é a forma como na agenda mediática está a ser tratada a proposta de Orçamento para 2015. Eis como a jornalista(?) Constança Cunha e Sá coloca a questão nos seus eloquentes e rigorosos espaços de comentário na TVI24:

«Não há nenhuma instituição que acredite nos números do Governo!»

«As medidas adicionais estão garantidas, não temos agora, vamos ter depois num Orçamento Retificativo, o que é absolutamente extraordinário é que o Orçamento ainda não entrou em vigor, não foi sequer discutido na especialidade e não há uma alma, tirando o próprio Governo, que acredite nesta receita. Ninguém acredita neste documento, é uma ficção que o Governo atirou para a Assembleia da República e que as pessoas vão fingir que discutem, sabendo que não estão a discutir nada que corresponda à realidade.».

Fixem bem: "nada que corresponda à realidade."
 
Nos últimos 3 anos, sistematicamente, as previsões do Governo são apresentadas como sendo fantasiosas e desprovidas de credibilidade. As projeções do Governo são tratadas como se resultassem de um acto de má fé, enquanto a toda e qualquer instituição com diferente projeção, é-lhe atribuída uma aura de credibilidade.

Em resumo, a este governo está reservada uma "presunção de culpabilidade".



Recuemos a Outubro de 2013 e à opinião – esta sim lúcida e de credibilidade imaculada - da mesma Constança Cunha e Sá, sobre a proposta do Governo para o OE 2014. 

«Ninguém dá a cara por este Orçamento!»

 “Constança Cunha e Sá salientou, esta quarta-feira, que é impossível que Portugal regresse aos mercados sem apoio.”


“«…o Governo consegue uma coisa que é iludir o essencial», defendeu. Para Constança Cunha e Sá, iludir o essencial passa por não dizer que, com programa cautelar ou com segundo resgate, a linha de austeridade que tem sido traçada pelo BCE, pela Comissão Europeia e pelo FMI vai continuar. «E por outro lado ilude-se outra coisa muito importante: programa cautelar ou segundo resgate, o que provam de facto, é que o programa de resgate falhou. A política do Governo falhou.”
Como se avaliaria Constança a si própria, se fosse confrontada com as suas previsões de há 1 ano atrás?! 


Mas, não é só a Constança…

O OE 2014 então apresentado, previa que Portugal crescesse 0,8%, um défice de 4% e um recuo da dívida pública para 126,6%. Tal como agora, para a generalidade dos comentadores, o Governo estava “isolado” nas suas previsões, sendo destacadas na comunicação social uma série de instituições e suas projeções:

“O Parlamento aprova na terça-feira o Orçamento para 2014 que prevê o regresso ao crescimento, mas o FMI, a Comissão Europeia, a UTAO e o CFP apontam riscos elevados a estas previsões, enquanto a OCDE espera metade do crescimento.”


Tal como agora, contra a “fantasia e irrealismo” das previsões do Governo de Passos e M.ª Luís Albuquerque, dizia-se

“CES alerta que 2014 pode trazer nova recessão. Instituição presidida por Silva Peneda não poupa nas críticas ao OE para o próximo ano”


“O Conselho Económico e Social (CES) alerta que em 2014 a economia portuguesa arrisca entrar em estagnação ou, num cenário mais pessimista, em recessão, pondo em causa o limite de 4% para o défice público.”


“O CES entende que nas perspectivas para o próximo ano, que apontam para um crescimento real de 0,8%, o Governo não tem em conta os efeitos “adversos” das suas políticas sobre o crescimento económico.”



Portugal, é muito isto...

Aproximamo-nos do final do ano e, apesar da derrapagem na despesa fruto da decisão do T. Constitucional e o colapso do BES – parece que as previsões do Governo se vão concretizar. Essa é a Realidade!

Mas, o que pode a realidade contra a narrativa mediática? Depois da execução dos OE de 2013 e de 2014, as previsões deste Governo são e continuaram a ser, na análise da vasta maioria de comentadores e jornalistas, sempre fantasistas e irrealistas. É essa a principal conclusão que leitores, espectadores e ouvintes, devem reter.


Passos e quem quer que seja o seu ministro(a) das finanças, estão de má fé, enquanto qualquer instituição que apresente previsões mais alinhadas com a narrativa de ocasião da esquerda, são exibidas nas páginas dos jornais e nos ecrans da televisão, como personalidades de inquestionável sabedoria e credibilidade!
 
Enfim, com o nosso jornalismo a dita “presunção de inocência”, quando nasce, não é igual para todos...