02 maio, 2013

Da imparcialidade ideológica do comentador tuga


Todos os dias se ouve o chavão “chegamos aqui pela irresponsabilidade dos políticos”. Isto tem alguma coisa de verdade, mas esta irresponsabilidade estende-se a toda a sociedade portuguesa, nomeadamente, pelas razões que aqui no blog já foram referidas.

No entanto, dentro da “sociedade”, existe um grupo – nomeadamente, jornalistas e comentadores – que têm uma responsabilidade especial e acrescida, já que são estas pessoas que informam os cidadãos em geral. Comentadores e jornalistas, determinam em larga medida aquilo a que se denomina por “opinião pública” e esta, por ser constantemente reproduzida em rádios, televisões e jornais, exerce grande influência na percepção e convicções dominantes na sociedade e, consequentemente, nas decisões individuais dos cidadãos - designadamente, o seu sentido de voto em eleições.


Para demonstrar a falta de imparcialidade de alguns comentadores “da nossa praça”, fui ao baú recuperar um artigo de opinião de Pedro Adão e Silva, comentador que regularmente aparece na televisão, rádio e jornais.
 
http://economico.sapo.pt/noticias/prometer-empregos_66132.html
Relativamente ao actual governo, com enorme facilidade, PAS pontua o seu comentário como termos como “incapaz”, “falhanço”, “descalabro”, “incompetente”,etc. (pode ser consultado aqui). No entanto, é interessante recuar ao verão de 2009 (perto das legislativas que ditaram a re-eleição de Sócrates, portanto ) e, a propósito da promessa falhada da criação de 150.000 empregos do governo socialista, analisar o artigo sobre o assunto e verificar que o PAS “o comentador implacável”, também é capaz de ser sensível e benevolente para os governantes (têm é de ter "a cor" certa). Entre no link, leia a retire as suas conclusões…

Para que Portugal tenha chegado a esta triste situação, muito contribuiu a falta de parcialidade de jornalistas e comentadores. Como em tantos casos que aqui no blog se referem, vêem com bondade e optimismo, quase tudo o que parte da “esquerda”, reservando uma atitude oposta, caso a metéria em análise tenha a “marca da direita”. 


Durante meses, diziam-nos diariamente que o orçamento já tinha derrapado, as contas do défice já estavam, furadas. Afinal, soube-se que no 1º trimestre, o défice do Estado ficou 500 milhões de €, abaixo do limite, porque nem se falou do assunto nos telejornais?! 


Um “escândalo” pode ter grande repercussão e abrir telejornais se for para “malhar na direita”, mas logo perde força se se constata que fragiliza a esquerda. Entre direita e esquerda, quem mais "praticou" a especulação financeira e recorreu a swaps?!;

Na área da política internacional, as notícias que denunciam os “podres” de políticos de direita (Berlusconi, por ex.) têm um tratamento bem mais visível que os de esquerda,  diziam-nos que a “quase totalidade do povo” estava com Chavez, onde estão notícias sobre a Venezuela?! E Hollande, o salvador do emprego e exterminador da austeridade?! E Lula, não esteve envolvido no "mensalão"?!

Se alguém diz que a despesa tem que ser ajustada à medida das receitas, apesar de isto não se tratar de ideologia mas de matemática, é logo catalogado pela comunicação social como sendo “defensor da austeridade”,de se tratar de um “inimigo do crescimento e do emprego”, etc… Para lá do irrealismo daqueles que acham que gastar acima das possibilidades é solução e do aproveitamento político que, quem está actualmente na oposição, faz desta mensagem, pergunta-se:
 
Quando todos os dias nos queixamos que os políticos fogem às suas responsabilidades, onde está  "a moral" e qual a coerência de responsabilização que esta linha de pensamento passa para a sociedade, quanto à necessidade e imperativo ético de - cada um de nós - ser capaz de assumir as consequências das suas decisões individuais !? 

 
Em resumo, o (triste) estado do País e a competência dos políticos que temos, são também o reflexo da qualidade do espaço mediático português, nomeadamente, dos  comentadores e jornalistas que o constroem. Sem eles, seria impossível por exemplo, a ascensão e, principalmente, a manutenção no poder de políticos como Sócrates, como sucedeu  nas eleições de 2009, muito à custa de opiniões de comentadores facciosos como o artigo de PAS.
 
O resto – o descalabro que veio depois em 2010, 2011… - é história.