30 maio, 2013

Títulos vs Corpo de notícia: lições sobre manipulação

 
Matéria recorrente aqui no blog, é a frequente utilização de títulos para "implantar uma ideia" no leitor... O exemplo presente foi retirado daqui:
 
por João Monge de Gouveia, em 30.05.13
 
Tem aparecido nos jornais que uma empresa do Primeiro Ministro está a ser investigada.
O titulo é chamativo e refere "Gabinete anti-fraude da UE investiga antiga empresa de Passos"
Depois se formos lendo a noticia, percebemos que a mesma está a ser investigada devido a uma denúncia da eurodeputada socialista Ana Gomes, ou seja, afinal a empresa está ser investigada não por livre iniciativa do Gabinete anti fraude, mas porque houve uma denúncia, o que é normal.
Se eu fizer uma denuncia sobre x ou y à policia dizendo que este cometeu qualquer crime, x ou y também será investigado e provavelmente constituido arguido e no final poderá ser acusado ou absolvido, no caso desta útlima hipótese e se tiver bases para tal pode até intentar uma queixa por denúncia caluniosa contra a pessoa que o denunciou.
Imaginemos agora que a investigação não dá em nada, não seria bem feita que quem denunciou fosse denunciada?
"
 
 
Ninguém está a dizer que o caso não deve ser investigado. Mas será que se justifica o destaque dado a esta notícia - apresentada como se de uma novidade se tratasse, centrando o caso na figura do 1º Ministro "investigado pelo gabinete anti-fraude da UE" e complementada com uma fotografia do "arguido" Passos - quando é público que a actividade da Tecnoforma já está sob investigação desde o final de 2012?!  
 
Já no início do ano, e depois do assunto ser extensivamente usado nos media para atacar Passos e Relvas, a PGR já tinha vindo esclarecer que "...Pedro Passos Coelho não está envolvido nos dois inquéritos judiciais à empresa Tecnoforma". Será que um organismo administrativo de Bruxelas se vai sobrepor às entidades oficiais portuguesas?
 
Mas daqui a 3 - 4 meses (até porque,  a memória tuga é o que é...), o assunto pode perfeitamente ser repescado e servir para um novo título sonante. Como o jornalismo militante é assim: enquanto uns casos "morrem à nascença", outros, são ciclicamente revisitados e "ressuscitados". 
 
Em relação à Drª Ana Gomes, dar-lhe os parabéns! Perante situações deste género, onde está em causa a (má) gestão de dinheiros público, e de eventuais crimes até. temos de recorrer a todos os meios ao nosso alcance para apurar responsabilidades. Nesse sentido, seria interessante saber do ponto de situação das queixas que apresentou junto dos organismos da UE relativamente a casos como o Freeport, o Face Oculta, as cláusulas criminosas das PPP rodoviárias, sobre os negócios e pressões sobre os media, das escutas a jornalistas, da Cova da Beira, do ajuste directo de milhões para comprar computadores Magalhães com dinheiro público, dos decretos lei para benefício da indústria farmacêutica...