30 novembro, 2012

Dr. Mário Soares vs Dr. Mário Soares


Nas últimas horas, a carta aberta dirigida a PPC pelo Dr. Mário Soares (e algumas dezenas de personalidades, entre 6 e 8, pelo que é possível apurar), faz furor na comunicação social. Em resumo, o documento apela a uma mudança de políticas defendidas pelo 1º Ministro que, caso não o faça, deverá demitir-se.
 
Alega ainda que as medidas adoptadas por este governo não são compatíveis com o programa eleitoral com que PSD e CDS se apresentaram a eleições. Esta última parte, embora correctíssima, é irrelevante porque em Portugal não há candidatos em campanha eleitoral que não o façam (PPC até será, provavelmente, o menos aldrabão). Mas vamos centrar-nos neste ponto: os políticos que “dizem uma coisa e fazem outra”. E um exercício curioso é comparar o teor deste documento da autoria do Dr. Mário Soares, com a prática do 1º Ministro… Sr. Dr. Mário Soares em situação similar nos anos de 83-84.
 
Deste artigo na Sábado: “Crise: Quando Mário Soares defendia o plano do FMI”, analisemos algumas afirmações do Dr. Mário Soares:

“Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos”

“Quem vê, do estrangeiro, este esforço e a coragem com que estamos a aplicar as medidas impopulares aprecia e louva o esforço feito por este governo”

“O importante é saber se invertemos ou não a corrida para o abismo em que nos instalámos irresponsavelmente”

“[O desemprego e os salário em atraso], isso é uma questão das empresas e não do Estado. Isso é uma questão que faz parte do livre jogo das empresas e dos trabalhadores (...). O Estado só deve garantir o subsídio de desemprego”

“O que sucede é que uma empresa quando entra em falência... deve pura e simplesmente falir. (...) Só uma concepção estatal e colectivista da sociedade é que atribui ao Estado essa responsabilidade”

“Dentro de seis meses o país vai considerar-me um herói”´

(aconselha-se a leitura da totalidade do artigo)

É claro que nos telejornais das 20h, estas tiradas do “ultra-liberal” Dr. Soares nunca terão qualquer destaque, mas ao lê-las cada um pode tirar as suas próprias conclusões…
 
Não haja dúvida, na comunicação social portuguesa, "há os filhos e os enteados".  
 
 

29 novembro, 2012

A arte de implantar uma ideia: a fábula da emigração.


Um dos exemplos mais recentes deste processo de implantação de uma ideia, é o da “verdade” inúmeras vezes repetida, que é a seguinte: “1º ministro mandou portugueses emigrar” ou “Governo convida portugueses a emigrar”.
Ontem, aos 30’40’’, José Alberto Carvalho afirma que o 1º Ministro (e outros governantes) têm “convidado os portugueses a emigrar”. http://video.pt.msn.com/watch/video/passos-coelho-em-entrevista-a-tvi-28-nov-12/295petqdq

PPC contestou, dizendo que tal afirmação não é verdadeira, mas qualquer português de tanto ouvir jornalistas, comentadores, de ver escrito na imprensa e repetido nas rádios e tvs, dá este “facto" como provado.  Mas de onde surgiu este “facto”, esta “verdade”?
Felizmente existe internet e é possível ir à fonte analisar o que de facto aconteceu. Recordemos as declarações então proferidas por PPC:
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/anuario-2011/pedro-passos-coelho-queremos-cobrar-menos-impostos-em-2015

Estas declarações, que interpretadas no seu contexto, revelam  bom senso, levantaram a polémica que se sabe. No momento seguinte - rádios, jornais, tv , numa flagrante deturpação do contexto em que as declarações surgiram, - anunciam: “PPC convida professores a emigrar”.

Depois os "professores" foram substítudos por "pessoas" e, para a posteridade, ficou o “facto”: “Governo manda portugueses emigrar”.
Isto é jornalismo de referência…



27 novembro, 2012

O Tabu das assimetrias regionais em Portugal


Num País onde muito se fala sobre solidariedade - especialmente neste período mais recente, em que frequentemente se aponta aos países mais ricos (como a Alemanha) o facto de não ajudarem os mais pobres -, é curioso que o tema das disparidades regionais de riqueza em Portugal sejam quase um tema tabu.

 
Por exemplo, sabia que de acordo com dados do INE, na comparação entre regiões (NUTS III,) a região da Grande Lisboa revela um PIB per capita superior à média do país em mais de 60%?

E que, segundo o mesmo indicador de riqueza, um cidadão residente na capital mais do que triplica o valor do mesmo indicador relativamente a um compatriota da região do Tâmega?

Será que faz sentido o discurso “pedinchão” e carregado de chantagem emocional, que frequentemente circula na comunicação social, imputando a Merkel e ao povo alemão, uma suposta falta de solidariedade com o povo português (e outros) se, dentro das nossas próprias fronteiras, convivemos com estes níveis de desigualdade e injustiça?    

 

23 novembro, 2012

Poupanças dos portugueses em queda, será mesmo?

Nos últimos dias, inúmeros artigos e reportagens têm-nos dado conta de uma sangria nas poupanças dos portugueses. Obviamente, os tempos não são fáceis e este facto vem sendo apresentado como uma consequência do tal "empobrecimento do país" em curso. Uma notícia da TSF rezava assim:
 
 
No entanto, com os media portugueses é sempre necessária muita cautela... Há umas semanas atrás tinha lido uma notícia que indiciava precisamente o contrário, ou seja, que as poupanças teriam crescido cerca de 5% de 2011 para 2012 (claro que essa notícia correu nas últmas páginas dos jornais não tendo merecido quelquer destaque...), o assunto merecia uma investigação!
 
A TSF, de onde foi extraído o link anterior, publicava no final de Agosto:
Os depósitos das famílias cresceram 1,9 por cento entre maio e junho de 2011.

Em termos homólogos, os depósitos aumentaram 5,2 por cento, passando de 118.402 mil milhões de euros contabilizados em Junho de 2010 para 124.514 mil milhões de euros em Junho de 2011.

Note-se que o mesmo órgão de comunicação social publica artigos completamente contraditórios pois, mesmo com o decréscimo de depósitos entre Agosto e Setembro de 2012, os números indicam que no último ano as apicações financeiras dos portugueses têm um balanço positivo.

Entretanto, hoje, o Banco de Portugal veio esclarecer que:
"a queda nos depósitos verificada em setembro não se deve a uma diminuição das poupanças das famílias, mas sim a uma reorientação para outras aplicações financeiras, sobretudo obrigações."
"O valor total das aplicações financeiras dos portugueses está hoje «muito em linha» com o observado há um ano, havendo apenas uma reorientação diferente destas."

Concusão: a ideia que a muita comunicação social faz / fez passar - que a  quebra dos montantes aplicados em depósitos corresponde a um aumento de dificuldades dos portugueses -  não é exacta nem verdadeira.

Com jornalismo assim... 




 

22 novembro, 2012

Coisas que não mudam

Neste aspecto, parece que a democracia não trouxe grande melhorias...

Uma Discussão nesta Santa Terra Portuguesa Acaba sempre aos Berros

Não há maneira. Por mais boa vontade que tenham todos, uma discussão nesta santa terra portuguesa acaba sempre aos berros e aos insultos. Ninguém é capaz de expor as suas razões sem a convicção de que diz a última palavra. E a desgraça é que a esta presunção do espírito se junta ainda a nossa velha tendência apostólica, que onde sente um náufrago tem de o salvar.
 
O resultado é tornar-se impossível qualquer colaboração nas ideias, o alargamento da cultura e de gosto, e dar-se uma trágica concentração de tudo na mesquinhez do individual.

Miguel Torga, in "Diário (1940)"
 
 
 


 

21 novembro, 2012

Títulos sonantes!

"95% dos portugueses têm conta no Facebook"
aqui: http://sol.sapo.pt/inicio/Tecnologia/Interior.aspx?content_id=63345

e

"Portugueses estão 88 minutos por dia nas redes sociais"
daqui: http://www.jn.pt/blogs/nosnarede/archive/2012/11/21/portugueses-gastam-88-minutos-por-dia-nas-redes-sociais.aspx


Se os srs jornalistas o dizem, é porque é mesmo assim!

Mas sou um tipo desconfiado e gostava de saber mais sobre a amostra de "portugueses" seleccionada para o estudo...

Editorial


Aqui mora alguém que encara o jornalismo como um verdadeiro serviço público e encara a missão de informar, investigar, analisar, esclarecer os cidadãos, uma das mais nobres profissões pela importância que a mesma encerra para o desenvolvimento de qualquer sociedade contemporânea.

“1. O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.”
Código Deontológico do Jornalista

Dito isto, é convicção do autor deste blogue que a comunicação social portuguesa negligencia, demasiadas vezes, o que deveria ser a sua missão. E acredita que, na origem dessa falha, não está apenas uma questão de falta de profissionalismo ou competência, mas também uma flagrante falta de imparcialidade política e ideológica.

Assim, em vez de relatar os factos com imparcialidade, tratando as partes “com interesses atendíveis” - simplificando, "esquerda" vs "direita" - de forma igual, nos media portugueses é visível a adoção de um critério jornalístico parcial, normalmente alinhado “à esquerda”, nos mais variados temas (económicos, políticos, sociais, etc.). Essa tendência materializa-se na tv, rádio, jornais, quando o jornalista:

- Em vez de informar, prefere doutrinar, privilegiando um determinado ponto de vista sobre outros. Basta uma leitura minimamente atenta a alguns jornais, para verificar que muitos dos conteúdos classificados como notícias são autênticas colunas de opinião.

- Em vez de investigar e esclarecer os cidadãos, limita-se, umas vezes - sem qualquer escrutínio e colocando-se dessa forma ao serviço dos interesses do emissor -, a reproduzir apenas o que lhe chegou da “fonte”. Outras vezes, quando a mensagem é oriunda de outras “fontes” e, por oposição ao exemplo anterior, dedica-lhe um contraditório completamente diferente, ocorrendo por vezes a reprodução de parte da informação veiculada, às vezes de forma distorcida. 

Os posts deste blogue deverão andar à volta desta temática.

Nós, os cidadãos, pessoas normais, pretendemos ver melhoradas as nossas condições de vida (individuais e colectivas). As nossas opções e escolhas políticas, nomeadamente, quem nos governa, são feitas de acordo com a informação disponível.

Quando essa informação falha, as escolhas dificilmente serão as corretas… uma comunicação social que falhe no cumprimento desta missão, faz parte do problema e não da solução.



 

20 novembro, 2012

Notícias que passam ao lado das manchetes...


Neste ambiente quase esquizofrénico de cortes e recortes, é estranho como algumas notícias de inegável interesse para os cidadãos quase não vêm a luz do dia.

http://expresso.sapo.pt/regioes-de-turismo-reduzidas-a-cinco=f767337

"Com a nova lei, as entidades de turismo ficam sujeitas a novas regras: os cargos de dirigentes remunerados são reduzidos de 45 para 10, e cada entidade não poderá ter mais de seis cargos intermédios remunerados."

"Além das economias em salários com o novo regime, Cecília Meireles frisa que "há margem para cortar gorduras e desperdícios de forma significativa. As entidades eram estruturas pesadas, ocupavam mais de 100 imóveis e tinham 70 viaturas ao seu serviço"."


Como esta notícia demonstra, existem muitas áreas do Estado onde "faz sentido cortar". Aliás, a reforma, re-estruturação - ou, repescando um termo mais infeliz - a refundação do Estado, será indispensável para que o País possa voltar a ter crescimento económico. Tal como está, é um fardo para nós contribuintes (cidadãos e empresas), insustentável.     

É pena verificar que as redações e a comunicação social em geral, em vez de assumirem um papel importante nesta discussão tentando esclarecer, informar, optem antes por contribuir para o boicote desta discussão. Sistematicamente, chamam à capa tíulos que visam apenas passar a mensagem que o País "não aguenta mais cortes", "não aguenta mais austeridade". Enfim, que deverá ficar tal como está, mas essa não é uma opção...