05 dezembro, 2012

Episódios negros da comunicação social portuguesa.


Neste post, recorda-se um dos episódios que melhor demonstram como a comunicação social em Portugal, impunemente, pode cometer os maiores erros na informação prestada e induzir os cidadãos de forma completamente desonesta e manipuladora.

Ao fim da tarde de 15 de Setembro de 2012, dia de uma das maiores manifestações de protesto realizadas em Portugal, todos os órgãos de comunicação social avançaram a notícia: “Manifestante imolou-se em Aveiro”
 

Talvez se recordem que, entre essa tarde de Sábado e o dia de 2ªfeira, esta notícia foi continuamente repetida nas rádios, jornais e tv. O tom (como se justificava, se tal situação fosse verdadeira) era dramático: “como é possível chegar a este nível de desespero? ”, relacionava-se a “imolação” com a “austeridade”, etc.. Seguem-se alguns links (TSF, Expresso, DN).
 
 
 
"Um homem que participava nos protestos em Aveiro contra as medidas de austeridade imolou-se pelo fogo"

Ao fim de 2 dias e, numa pequena reportagem televisiva de um dos canais, envergonhadamente foi referido que o protestante não se teria imolado mas seria, afinal, vítima de um acidente:
 
"o episódio que foi noticiado como uma tentativa de imolação durante os protestos na cidade, foi originado pelo derrame de líquido inflamável quando o jovem, de 21 anos, se preparava para um número circense, cuspindo fogo."

E assim, depois de linhas e linhas na imprensa, milhares de comentários nas redes sociais à volta dos terríveis efeitos da austeridade, depois de horas de emissão dedicadas ao tema, o assunto “desapareceu”. Sem qualquer esclarecimento ou pedido de desculpas pela falta de rigor gritante envolvida na situação.
 
Isto é admissível numa “sociedade da informação”? Nunca se viu ninguém ligado ao jornalismo abordar este episódio, a dedicar-lhe uma reflexão que fosse, sobre o que tinha sucedido. Recordo que dias / semanas depois, ainda ouvia pessoas a falarem no jovem desesperado que se tinha “imolado contra a austeridade”.
 
Foi tão grave a forma como, durante aquele fim-de-semana, foi possível difundir interruptamente uma notícia falsa que, inclusivamente, marcou até emocionalmente, o próprio significado da manifestação, como a forma subrrepetícia como a mesma desapareceu das manchetes sem o esclarecimento que se impunha.

E é por episódios deste é que este blog se chama “Com jornalismo assim, quem precisa de censura?...”
 

2 comentários:

  1. Muito bom trabalho! Já se exigia algo assim, parabéns.

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  2. Obrigado.

    Sem uma comunicação social isenta, íntegra, que cumpra os deveres a que o seu próprio Código Deontológico obriga, dificilmente poderemos evoluir para uma sociedade melhor.

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