Neste post, recorda-se um dos episódios que melhor demonstram como a comunicação social em Portugal, impunemente, pode cometer os maiores erros na informação prestada e induzir os cidadãos de forma completamente desonesta e manipuladora.
Ao fim da tarde de 15 de Setembro de 2012, dia de uma das maiores manifestações de protesto realizadas em Portugal, todos os órgãos de comunicação social avançaram a notícia: “Manifestante imolou-se em Aveiro”
Talvez se recordem que, entre essa tarde de Sábado e o dia de 2ªfeira, esta notícia foi continuamente repetida nas rádios, jornais e tv. O tom (como se justificava, se tal situação fosse verdadeira) era dramático: “como é possível chegar a este nível de desespero? ”, relacionava-se a “imolação” com a “austeridade”, etc.. Seguem-se alguns links (TSF, Expresso, DN).
"Um homem que participava nos protestos em Aveiro contra as medidas de austeridade imolou-se pelo fogo"
Ao fim de 2 dias e, numa pequena reportagem televisiva de um dos canais, envergonhadamente foi referido que o protestante não se teria imolado mas seria, afinal, vítima de um acidente:
Ao fim de 2 dias e, numa pequena reportagem televisiva de um dos canais, envergonhadamente foi referido que o protestante não se teria imolado mas seria, afinal, vítima de um acidente:
"o episódio que foi noticiado como uma tentativa de imolação durante os protestos na cidade, foi originado pelo derrame de líquido inflamável quando o jovem, de 21 anos, se preparava para um número circense, cuspindo fogo."
E assim, depois de linhas e linhas na imprensa, milhares de comentários nas redes sociais à volta dos terríveis efeitos da austeridade, depois de horas de emissão dedicadas ao tema, o assunto “desapareceu”. Sem qualquer esclarecimento ou pedido de desculpas pela falta de rigor gritante envolvida na situação.
E assim, depois de linhas e linhas na imprensa, milhares de comentários nas redes sociais à volta dos terríveis efeitos da austeridade, depois de horas de emissão dedicadas ao tema, o assunto “desapareceu”. Sem qualquer esclarecimento ou pedido de desculpas pela falta de rigor gritante envolvida na situação.
Isto é admissível numa “sociedade da informação”? Nunca se viu ninguém ligado ao jornalismo abordar este episódio, a dedicar-lhe uma reflexão que fosse, sobre o que tinha sucedido. Recordo que dias / semanas depois, ainda ouvia pessoas a falarem no jovem desesperado que se tinha “imolado contra a austeridade”.
Foi tão grave a forma como, durante aquele fim-de-semana, foi possível difundir interruptamente uma notícia falsa que, inclusivamente, marcou até emocionalmente, o próprio significado da manifestação, como a forma subrrepetícia como a mesma desapareceu das manchetes sem o esclarecimento que se impunha.
E é por episódios deste é que este blog se chama “Com jornalismo assim, quem precisa de censura?...”
E é por episódios deste é que este blog se chama “Com jornalismo assim, quem precisa de censura?...”
Muito bom trabalho! Já se exigia algo assim, parabéns.
ResponderEliminarObrigado.
ResponderEliminarSem uma comunicação social isenta, íntegra, que cumpra os deveres a que o seu próprio Código Deontológico obriga, dificilmente poderemos evoluir para uma sociedade melhor.