Um bom exemplo do alinhamento de boa parte da comunicação social com o "chico-espertismo" do discurso da esquerda - nomeadamente a bancada do PS -, é a repetição e o constante ruído de fundo à volta da suposta necessidade de Portugal “renegociar a dívida para pagar menos juros”.
Vejamos, o governo socialista liderado por Sócrates, mais que duplicou a dívida nos seus 6 anos de governo. É nesse período de governação, portanto, que é tem origem mais de metade do montante de juros - cerca de 8.000 milhões de euros - que hoje temos de pagar. Para os mais distraídos, recorde-se a herança de um governo cuja maior parte dos membros (também convém lembrar) estão hoje sentados na Assembleia da República, entre outras coisas, a clamar contra inconstitucionalidades como se não tivessem nada a ter com a actual crise:
- uma dívida directa que subiu 90.000 milhões de euros;
- que a dívida indirecta do sector público empresarial – ascendeu aos 30.000 milhões;
Momento 1 - O Jornalismo militante, diz-nos que pagar menos juros não é prioritário:
Considerando o crescimento anémico da economia portuguesa, apesar de quase 20 anos de políticas económicas dominadas pele lema “há mais vida para além do défice”, desde o final dos anos 90, personalidades alertavam para o trajecto de insustentabilidade, a prazo, da nossa dívida. Este facto ficou evidente com a crise financeira de 2008.
Mas, apesar das evidências e das diversas vozes que alertavam para a circunstância de Portugal não conseguir pagar a dívida acumulada, esta questão da capacidade para o País pagar os juros dela decorrente, nunca foi uma escolha das redacções para a abertura de telejornais ou manchetes. O espaço mediático, aliás, entre 2007 e 2009 era dominado pelo optimismo e um corropio de eventos protagonizados pelos responsáveis socialistas enquanto inauguravam mais um parque eólico, mais uma auto-estrada ou, essa infra-estrutura estratégica, que é o aeroporto de Beja.
Nessa altura - a “era dourada” das PPP, do Parque Escolar, do Magalhães, das Eólicas, etc. - decisões políticas que determinaram a enorme dívida e juros que agora temos de pagar… a comunicação social funcionava como uma espécie de caixa de ressonância da teoria “crescimentista”. Não era raro ver ridicularizados na comunicação social personalidades como Medina Carreira, Manuela Ferreira Leite e outros (ora recorde lá jornalistas falarem no problema dos juros que Portugal teria de pagar no futuro…).
Aliás, basta recordar as eleições de 2009 onde, em plena crise, aumentando em quase 3% os funcionários pblicos, apoiado num discurso completamente irrealista de mais estado social e investimento público, por pouco, Sócrates não consegue maioria absoluta, apesar de uma situação económica de descalabro iminente. Determinante, foi o papel da comunicação social cooperante, que de episódio em episódio ia desacreditando M. F. Leite que, como se viu depois, tinha razão quanto à impossibilidade da continuação das políticas socialistas…
Momento 2 - O Jornalismo militante, diz-nos que pagar menos juros não é prioritário:
Depois das eleições, rapidamente se constatou a fraude do discurso da campanha socialista, cuja vitória assentou na promessa de “mais investimento púbico”, “mais emprego”, etc.. A realidade, por muitos discursos e muito “sounbyte” debitados, ditava algo diferente: pura e simplesmente não havia dinheiro e os juros de dívida pública iniciaram a sua escalada.
Vieram os cortes, a subida de impstos, os PECs… I… II…III e o famoso PEC IV.
Este - o PEC 4 - é um dos maiores mitos no discurso político recente. Não há semana em que um socialista não venha dizer que “caso o PEC 4 não fosse chumbado, não estaríamos nesta situação”. Esta é uma "chico-espertice" que o Bom Jornalismo teria obrigação de desmontar…
Recuemos ao final de 2010: em Novembro os juros da dívida superam os 7%, no momento do PEC IV (Janeiro / Fevereiro de 2011, rondavam os 8%). Para que Portugal continue a pagar as “despesas correntes” e a contrair dívida (afinal, mais uns mesinhos e estariam no terreno o TGV, o novo aeroporto de Lx e a 3ª travessia do Tejo), os portugueses seriam chamados a mais sacrifícios, depois de verem a aprovação de 3 PEC anteriores (com o acordo do psd) .
Ainda hoje, e aqui reside a "chico-espertice", se diz que Sócrates tinha um acordo com o BCE, mas alguém acredita nisto?! Viram alguém do BCE confirmá-lo?! Pura fantasia, então com a Grécia e a Irlanda, já naquele momento, sob resgate financeiro das instituições europeias e do FMI, é preciso ser muito crente em Sócrates para acreditar que daria um tratamento privilegiado a Portugal. O PEC IV limitava-se a ganhar mais algum tempo e, provavemente, possibilitar que alguns projectos atingissem um ponto de não retorno (também aqui, lembram-se de ver na comunicação social preocupação quanto aos juros que estas opções comportariam no futuro?).
Este - o PEC 4 - é um dos maiores mitos no discurso político recente. Não há semana em que um socialista não venha dizer que “caso o PEC 4 não fosse chumbado, não estaríamos nesta situação”. Esta é uma "chico-espertice" que o Bom Jornalismo teria obrigação de desmontar…
Recuemos ao final de 2010: em Novembro os juros da dívida superam os 7%, no momento do PEC IV (Janeiro / Fevereiro de 2011, rondavam os 8%). Para que Portugal continue a pagar as “despesas correntes” e a contrair dívida (afinal, mais uns mesinhos e estariam no terreno o TGV, o novo aeroporto de Lx e a 3ª travessia do Tejo), os portugueses seriam chamados a mais sacrifícios, depois de verem a aprovação de 3 PEC anteriores (com o acordo do psd) .
Ainda hoje, e aqui reside a "chico-espertice", se diz que Sócrates tinha um acordo com o BCE, mas alguém acredita nisto?! Viram alguém do BCE confirmá-lo?! Pura fantasia, então com a Grécia e a Irlanda, já naquele momento, sob resgate financeiro das instituições europeias e do FMI, é preciso ser muito crente em Sócrates para acreditar que daria um tratamento privilegiado a Portugal. O PEC IV limitava-se a ganhar mais algum tempo e, provavemente, possibilitar que alguns projectos atingissem um ponto de não retorno (também aqui, lembram-se de ver na comunicação social preocupação quanto aos juros que estas opções comportariam no futuro?).
Momento Actual: O Jornalismo militante, diz-nos que pagar menos juros é prioritário!
2012, o culminar daqueles anos de endividamento está aí: "a despesa com juros representava 79 por cento do défice orçamental no termo do terceiro trimestre". Mas agora - depois de anos a "assobiar para o lado", depois de toda aquela dívida ser contraída e por isso temos agora de a pagar - assiste-se, diariamente, a comentadores, jornalistas, etc., formando uma unanimidade em torno da necessidade de pagar menos juros – pergunta-se: onde andavam estas luminárias entre 2005 e 2010, no período em que a dívida foi contraída?
Mas, o cúmulo é assistir, com a maior passividade por parte daquele jornalismo sempre tão pronto a atitudes inquisitórias, aos mesmos socialistas que, ainda há menos de 2 anos, defendiam o PEC IV e, portanto, defendiam a continuidade dos empréstimos a taxas de 8% (ou mais…), converterem-se agora nos maiores inimigos da dívida e passarem a vida a dizer aos portugueses que “é insustentável pagarmos tantos juros” que o Governo tem de renegociar a dívida! Cavalgando a típica memória curta portuguesa, cultivada pelo espaço mediático e o jornalismo miltante, repetem à exaustão que não podmos pagar tantos juros, que é obrigatório renegociar a taxa do empréstimo da Troika (cujo juro é 3,4%, recorde-se).
Mas querem fazer de nós parvos!? Se, como atrás se explicou, o PEC IV implicava que Portugal continuasse a contrair dívida nos mercados a uma taxa de 8%, quase o triplo dos juros da Troika, é preciso muito descaramento!... Isto é sério? E o jornalismo que permite esta farsa e na prática, protege esta politiquice e "chico-espertismo", como fica neste filme?
Por favor acabe-se com o mito. Imaginemos que o PEC 4 tinha passado no início de 2011: Portugal, ter-se-ia aguentado mais uns 6 meses. No terreno, provavelmente, estariam o TGV, o novo aeroporto e sabe-se lá mais o quê… à nossa dívida teriam sido somadas mais umas dezenas de milhares de milhões de euros a um juro bem mais alto, i.e., estaríamos num buraco ainda mais fundo, o que obrigaria à necessidade de maiores cortes e de mais impostos, na actualidade e no futuro.
Em resumo e ao contrário do que se pretende fazer crer, õ PEC IV não constituia qualquer salvação. Foi possivelmente o chumbo do PEC 4 que evitou a degradação da situação portuguesa ao ponto da situação a que a Grécia chegou. “Vá de retro!”, PEC 4!