26 novembro, 2014

Guião do comentário televisivo para não deixar cair Costa e o “PêeeeéSssseeeeee“…

Embora na imprensa a cobertura do caso Sócrates esteja a ser isenta, i.e., vemos referidos os aspetos que suportam a detenção do ex-pm, assim como, os receios de algum justicialismo e o eventual perigo para os direitos dos cidadãos perante o sistema de justiça, na televisão, espaço onde se fabricam os presidentes e se forjam os vencedores de eleições, os comentadores do costume (Adão e Silva, Marques Lopes, Clara Ferreira Alves, M.S. Tavares, etc.) têm feito um trabalho digno de registo…

Ontem ao ver os telejornais e a fazer zapping pelos canais noticiosos, assisti a uma tremenda preocupação como a "justiça", com o imenso poder dos juízes e nada sobre o que se vai sabendo das práticas de Sócrates…


Repetidamente, vêm-se e ouvem-se, comentadores e opinadores falarem cada vez mais das preocupações com o “fim do estado de direito”, com a mediatização do processo (como se essa responsabilidade não fosse exclusiva dos meios de comunicação para quem trabalham) e nada dizendo sobre o que já se sabe dos alegados crimes de Sócrates.

Assim, ao fim de 48 horas da prisão preventiva do “querido líder”, entre a consternação e algum choque pelo sucedido, já é possível descortinar o fio condutor e as traves mestras - ou ideias a implantar - no comentário político para os tempos que se avizinham. Elenquemos algumas dessas ideias, recordando outros casos de forma a avaliar o critério agora seguido por tão distinguidos comentadores:


1ª ideia a implantar:

“É indecente falar do que, alegadamente, Sócrates andou a fazer pois está em segredo de justiça. Estão a condená-lo na praça pública e isto é uma negação de justiça!”

Caro cidadão, uma coisa é falarmos nos telejornais do roteiro de Duarte Lima em terras do Brasil por onde - alegadamente - “foi despachar
” um assunto com uma sua cliente e várias reportagens nos deram  conta dos pormenores do carro alugado por Lima, da lavagem dos tapetes para eliminar vestígios do crime, etc.. Assim como, no caso de Isaltino, até era divertido falar do seu sobrinho taxista que – alegadamente – tinha em seu nome centenas de milhares de euros na Suiça.

Lembra-se de ver na televisão tantos pruridos com o “segredo de justiça”, nestes casos?


Mas há tanto para investigar e noticiar sem violar o (pobre) segredo de justiça. Por exemplo: já foram investigar quanto faturavam o Grupo Lena e/ou as empresas do Carlos Santo Silva, antes de Sócrates chegar ao poder e quanto passaram a faturar?


2ª ideia a implantar:

“Isto não atinge apenas Sócrates, mas todos os políticos do regime!”.

Os crimes do BPN são crimes claramente identificados com o PSD e com Cavaco Silva. No caso de Sócrates, parece que não são crimes “exclusivos” dos socialistas e do PS, são da “classe política”... 

 Aliás, será também interessante constatar como será a gestão mediática do seguinte aspecto: A colagem de Cavaco ao BPN, porque Dias Loureiro e Oliveira e Costa foram membros do seu governo, é recorrente na agenda mediática. Esse governo data do final dos anos 80 e início dos 90, a fraude do BPN ocorre 10 anos depois, mas é unânime a narrativa da ligação BPN, PSD e Cavaco (notar ainda que a existência do BPN coincidiu com um período de governação socialista: 14 anos em 16, no período que decorreu entre 1995 e 2011).


No “caso Sócrates”, será que os que estiveram ao seu lado – nomeadamente Costa – vão ser objeto do mesmo critério de análise e comentário, i.e., da mesma ligação / contaminação?... Cavaco “está metido no BPN” porque, 10 anos depois, ex-ministros seus cometeram crimes.
 
Basta pensar que as leis que permitiram o repatriamento dos capitais do Sr. Engenheiro, foram todas aprovadas em Conselho de Ministros por ministros sociaslistas…


3ª ideia a implantar:
 
“Este processo é muito mau para a imagem de Portugal lá fora!”.

Quando Berlusconi ou Sarkozy foram detidos e se viram a contas com a Justiça nos seus países, quantos comentadores viram na televisão referir que, Itália e França, eram um “país de corruptos”?!

Ou seria que a ideia transmitida por essas reportagens ia mais no sentido “finalmente a justiça está a actuar como deve num Estado de Direito”. Alguns até lamentavam que em Portugal não fosse assim. Um país onde os políticos eram jugados como qualquer outro cidadão.  


Comunicação Social, a verdadeira oposição…
A menos de um ano de eleições, nunca, como neste momento e, o PS está nas mãos da comunicação social e do jornalismo de causas. Ainda ontem, através dos mesmos telejornais, pude assistir a um episódio só possível pela cumplicidade dos media. Refiro-me à (improvável) cena de ver Ferro Rodrigues, em plena Assembleia da República, na "casa da democracia",  vestir o fato de guardião do Estado de Direito e de defensor da “verdadeira” Justiça…

"A confiança dos cidadãos nas instituições democráticas, certamente diminuiu". Neste quadro, alertou, todos os deputados estão obrigados a "defender o Parlamento e o Estado de Direito".


Imagine o caro leitor se esses mesmos telejornais – tal como fazem em relação ao passado de outros atores políticos – fossem revisitar o que nesta matéria do “respeito pela justiça” é o seu currículo, concretamente, no caso das escutas do processo Casa Pia e o célebre:
 
"Os políticos não são todos iguais". Quem serão os políticos que voltarão a merecer o voto dos portugueses?

 
Dizem que o “regime está podre”, se está!...