11 setembro, 2014

Sim. A Boa imprensa pode sobrepor-se à Realidade.


No post anterior, ficou no ar a curiosidade quanto à forma como a SIC iria gerir o 2º debate entre Costa e Seguro, designadamente, sobre uma questão que marcou o 1º debate: a decisão de Seguro em abster-se aquando da apresentação do OE212. Mas, já lá vamos…

Logo na abertura do telejornal (lendo o que a redação lhe colocou no teleponto, imagino) foi assim que Rodrigues Guedes de Carvalho fez o enquadramento ao debate enquan
to Seguro entrava nas instalações da SIC:

“…depois do debate anterior, onde Seguro sobretudo lançou acusações a de deslealdade e traição a Costa, hoje os portugueses esperarão sobretudo conhecer as propostas concretas…”

Vamos por partes:

Em 1º lugar, Seguro falou na “deslealdade e traição” porque a moderadora (Judite de Sousa) lhe colocou a questão. Mesmo assumindo, como a generalidade dos comentadores parece ter escolhido fazer, que este assunto deveria ser ignorado por se tratar apenas de uma mera “trica pessoal”, o que deveria Seguro ter feito quando confrontado com a questão pela moderadora? Recusar-se a responder?

Em 2º lugar, realmente os portugueses precisam conhecer essas “propostas concretas” dos candidatos, mas sendo Seguro o único que apresentou as ditas - irrelevantes para a resolução dos problemas que Portugal enfrenta, diga-se, mas, ainda assim, as únicas - faz sentido esta crítica subtil e manhosa que diminui Seguro quando é Costa quem foge a concretizar uma medidazinha que seja?

Mas o que é realmente grave –  tal como no post anterior se suspeitava – foi constatar como, mais uma vez, existiu a opção deliberada em não beliscar a imagem de António Costa e até de colar Seguro a um registo de “queixinhas”.

No entanto, e é aqui que o assunto do sentido de voto no OE de 2012 ganha relevância, o que está em jogo vai muito para além de uma “picardia” pessoal. Trata-se da credibilidade dos candidatos a PM, nomeadamente, o seu carácter.


Foi o próprio Costa quem chamou ao 1º debate o episódio do voto de abstenção do PS no OE2012 e lhe atribuiu grande importância, pois apontou-o como sendo "o" momento que marcou a incapacidade do PS de Seguro em se afirmar como oposição ao governo: ""Fraqueza" do PS começou com abstenção na votação do OE 2012".


Ora, Seguro – recordando a posição de Costa na Quadratura do Circulo – apontou a cambalhota do adversário, pois nessa altura defendeu a abstenção como uma solução lógica. E este episódio – que muitos querem ignorar – é importantíssimo pois coloca em causa a credibilidade de António Costa. Ainda mais quando é conhecida a forma como veio disputar a liderança a Seguro.

As imagens da declaração de Costa são estas, no entanto a SIC, apesar de ser precisamente o canal (SIC Notícias) onde as declarações foram proferidas, optou por não dar relevância à questão, tendo decidido “esquecer” o assunto.

Lembrar aqui os “filhos e enteados da comunicação social”: enquanto alguns políticos são criticados na praça pública por dizerem uma coisa hoje e outra amanhã (lembram-se, por ex., do irrevogável) parece que outros políticos são inimputáveis


Como teria decorrido o debate e o próprio desenrolar destas primárias socialistas se a opção editorial da SIC fosse a de esclarecer o tema da votação no OE2012?

Note-se, que no programa de “análise política” que começou na sic notícias pouco depois do final do debate, novamente esse episódio foi referido (o que volta a provar a sua relevância) e tive a oportunidade de assistir a M. Sousa Tavares dizer algo do género “ou um ou outro está a mentir e isso é grave”… 
 
Meus Srs., neste caso, é muito fácil identificar o mentiroso! Parece apenas faltar a vontade... Como a edição e redação da SIC, não quiseram que os portugueses identificassem quem era o candidato mentiroso, optaram por deixar no baú as declarações de Costa…
 
Enfim, a comunicação social já escolheu o novo “querido líder”. Resta aos portugueses continuarem a ver e ouvir os comentadores do costume e lerem os escribas do costume, até que o poder volte a cair no colo dos predestinados

Tudo correrá pelo melhor e sem sobressaltos!

 Com jornalismo assim, quem precisa de censura?...

Para terminar, ainda sobre o debate, recomendar a leitura deste post de Vasco Lobo Xavier no Corta Fitas:


“… Mas o mais divertido é ver Lisboa. Lisboa, os lisboetas, as elites, os comentadores da praxe. Eles pensavam todos, eles achavam, eles tinham decretado que para António Costa só podia haver uma passadeira vermelha. E estão todos desesperados. Não tanto como André Freire, claro, mas quase. E então comentam com delicioso desespero e parcialidade. Dizem que no próximo debate é que vai ser. Até Miguel Sousa Tavares estava envergonhado, na SIC N.

Seguro só perdeu quando se esqueceu de dizer que, neste momento, Costa nem à janela da Câmara de Lisboa está.

Estas pessoas não perceberam ainda que o país não é só Lisboa e que o país não se revê nas atitudes nem nos silêncios de António Costa sobre as questões que verdadeiramente preocupam o país. Não perceberam que o país talvez se reveja mais em António José Seguro, com todas as suas fragilidades, e, o que é ainda pior para eles, que o país se reveja mais em Passos Coelho do que em Seguro, com todos os defeitos que aquele possa ter. Se é isto que o PS tem para oferecer, estou convencido de que o país não irá comprar. Só talvez Lisboa, mas é pouco.”