05 setembro, 2014

Dissecando o “Centrão” (ou a Economia "pseudo-privada")

Hoje, no I Online, foi publicada esta interessante entrevista:

"Nuno Godinho de Matos, até final do ano passado braço-direito de Daniel Proença de Carvalho, era até início de Agosto administrador não executivo do Banco Espírito Santo”

A certa altura é colocada a pergunta:
Os administradores fazem perguntas?

Em seis anos nunca abri a boca, entrava mudo e saía calado. Bem como todos os restantes administradores.


É com esta candura, como quem diz “eu não sabia, nem tenho culpa de nada, era apenas um insignificante e reles, administrador executivo…” que o Sr. Dr. se refere aos 6 anos – não são 6 semanas ou 6 meses – que esteve ligado à instituição BES, ex-líbris do que aqui no blog se designou por economia "pseudo-privada".

Se alguém duvidava (principalmente durante os anos em que o Estado contou com financiamento praticamente ilimitado) que não era o conhecimento de um sector económico específico e as competências adquiridas numa dada área de negócio, mas antes o portfólio de contactos e a influência da “rede de amigos” que, junto do poder, poderão abrir portas aos negócios chorudos e sem risco, tem nesta declaração a melhor demonstração dessa realidade.

A propósito, recordar um excerto deste post: “Do "Portugal silencioso"...”

“…
Estes dados, são a melhor evidência dos dois modelos de sociedade existentes no nosso País. Por um lado, o modelo de sociedade representado por um grupo bem instalado em “Lesboa”. Uma condição conquistada na sombra da monstruosa estrutura do Estado e dos milhares e milhares de empregos sustentados pela burocracia.


À custa desta estrutura, sustentada com os impostos de TODOS os portugueses, cresceu uma economia "pseudo-privada":
um sector de serviços ancorado nos gabinetes de "grandes" advogados & seus pareceres, nos escritórios da banca e das consultoras internacionais, das administrações das empresas públicas e das ex-públicas (edp, pt, galp...) que, mesmo anos depois da sua privatização, continuaram com as benesses e os monopólios que só a proximidade (promiscuidade...) com o poder lhes garantiu (e garante).
…”
 
 
Voltando à entrevista e, especialmente, para quem ainda não percebeu o que se joga nas Legislativas de 2015, destacar outra curta passagem, mas que exprime uma autêntica declaração de interesses:

“O advogado é PS e pró-Costa convicto, mas vota Cavaco e gostava de ver Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência.”

Esta frase praticamente delimita os contornos do “status quo” da capital e do regime… que a “era da Troika” e, diga-se, um (surpreendentemente) obstinado e independente, Passos Coelho veio ameaçar.

Nota: acrescentar, a título de curiosidade,  que este ilustre fundador do PS é advogado de Armando Vara. Vara que, aparentemente, está “em "choque" com a condenação no caso Face Oculta”. Enfim, como alguém dizia, “isto anda tudo ligado”…


Para terminar, recordar uma das questões chave (na perspetiva do Com Jornalismo Assim…, claro) para o nosso futuro coletivo:

Assim, um dos maiores desafios que se coloca a este País, é o seguinte: 
Sabendo nós que a comunicação social desempenha um papel central na ascensão e queda dos sucessivos governos, será possível implementar as mudanças que Portugal precisa, e que passam, essencialmente, pelo corte nos recursos que sustentaram a riqueza gerada na capital nas últimas décadas, quando será precisamente esse grupo - que domina completamente a agenda mediática e a opinião pública - o mais atingido por essas medidas ?”