26 setembro, 2014

Corolário da "esquerda boazinha Vs direita maléfica".


Depois de passarem a vida do homem a “pente fino”, a insinuação via carta anónima foi o melhor que conseguiram arranjar.

Esvaziada a questão da exclusividade, o carácter do atual PM poderá ser questionado apenas pela seguinte dúvida: terá PPC tenha recebido, através das ditas “despesas de representação”, algo mais do que teria direito?

Se as acusações anónimas se confirmassem, só lhe restaria a demissão, mas, dificilmente o saberemos… salvo nova e relevante informação venha a público, parece que ficará ao juízo e convicção da cada um.


No fundo e ironicamente, a política é também uma questão de . Por exemplo, sendo público que os rendimentos de PPC decorrem essencialmente dos cargos públicos desempenhados, se em vez do apartamento em Massamá, vivesse num luxuoso apartamento numa zona nobre de Lisboa, as suspeitas lançadas na comunicação social sobre a sua conduta seriam idênticas, maiores ou menores?

Se, em vez de passar férias numa vivenda alugada na Manta Rota, fizesse as suas férias nos resorts mais exclusivos, o escrutínio jornalístico à origem dos seus rendimentos seria, idêntico, maior ou menor?  


Olhando além do “Passosgate”, há algo aqui que merece reflexão… que factos podem determinar, a (in)elegibilidade de alguém para o cargo de ministro, ou, como no caso presente, encontrando-se alguém no desempenho dessas funções, o que obriga a uma demissão?

E, para além dos factos e dos atos, quem o determina?

Vejamos, ao longo da última semana, decorrente do grau de visibilidade mediática que o jornalismo atribuiu  a esta novela "Passos & Tecnoforma", qualquer cidadão poderia concluir: tendo existido remunerações daquela entidade a um deputado que alegou exclusividade, só uma saída seria possível: a demissão.


Então, parece estar aqui encontrado um dos casos de inelegibilidade / demissão. Será?...

Durante o mandato do anterior 1º Ministro - entre muitas outros “casos polémicos”, diga-se – foi do conhecimento público um caso semelhante ao que se pretende imputar a Passos (mas ainda ninguém foi capaz de provar, recorde-se...).


Alguém se recorda de semelhante campanha mediática como esta a que PPC foi sujeito, quando foi conhecido que, enquanto era deputado “em exclusividade”, Sócrates recebeu pagamentos de outras empresas? 


Sendo casos idênticos, com a agravante de o "caso Passos" se alicerçar (para já) apenas numa carta anónima - sem fundamento ou prova -, enquanto no caso de Sócrates existem provas concretas, porquê a diferença de tratamento jornalístico? Onde estavam,  nessa altura,  estes comentadores que, agora, exigem uma demissão!?


Casos semelhantes não deveriam apenas ser avaliados em função da gravidade intrínseca dos atos, independentemente, de quem os pratica?...


Outro exemplo: imaginem que vinha a público que Passos Coelho, há alguns anos, tinha tentado interferir num caso judicial recorrendo, por hipótese, aos seus contactos na PGR e na Presidência da República para ajudar um seu camarada sob investigação.


Se, pela suspeita (não provada, recorde-se) de ter recebido uns cobres não declarados da Tecnoforma, temos assistido à indignação de pilhas de virgens ofendidas das redações e da esquerdalhada, imaginem o ambiente mediático e o que se diria de uma situação dessas…


Obviamente, tal conduta seria inadmissível e incompatível com o lugar de Primeiro Ministro! Nas televisões e jornais, jornalistas e opinadores, seriam unânimes: em qualquer democracia ocidental, semelhante prática daria lugar, para além da óbvia demissão, a consequências de natureza criminal para o político que, dessa forma, tivesse tentado interferir no desenrolar de um processo judicial.  


 
Mas, mais uma vez, seria esta a avaliação de semelhante conduta, independentemente da personalidade que a praticasse?


É que existe um candidato a PM que tem precisamente esse “cadastro” e não consta que o “jornalismo de inquisição” se incomode com semelhante situação, pelo que a mesma não será impeditiva para o desempenho do cargo...


É isso mesmo, vivemos tempos de verdadeira “ditadura mediática”. O que é permitido e não é permitido fazer, parece depender mais da visibilidade da campanha mediática gerada (ou do seu encobrimento) em torno do caso A ou B, do que da gravidade dos ilícitos – independentemente de quem os pratica - que o próprio caso encerre. 

Com jornalismo assim, quem precisa de censura?...