25 outubro, 2013

Direita, o "clube de amigos" da Banca.


“OE 2013: Foram já devolvidos 730 milhões e foram pagos em juros mais de 445 milhões de euros. Os juros pagos pelos bancos são muito acima dos que seriam em situações normais, precisamente para remunerar os contribuintes acima do nível de risco que estas operações de recapitalização significam", disse a governante que está hoje no Parlamento a ser ouvida sobre uma nova alteração à lei de recapitalização da banca.


Um dos bons exemplos da narrativa “esquerda boazinha Vs direita maléfica”, é a forma como na agenda mediática são tratados os assuntos sobre as relações entre o sector da Banca e quem detém o poder, i.e., quem governa. Falar disto é falar do incontornável caso BPN e da forma como o caso é usado como arma de arremesso político em relação a alvos bem definidos…

Apesar da notícia no início do post, não há semana, em que na agenda mediática (com origem em órgãos de comunicação social ou, com origem em outras fontes mas reproduzidas sem qualquer contraditório pelos media) não surjam manchetes com o seguinte teor:

“As semelhanças entre o BANIF e o BPN”

“Com os 1100 milhões de euros do BANIF a injeção de capital público na banca já chega aos 7 mil milhões de euros. Isto sem contarmos as injeções no BPN. O BANIF e o BPN apresentam semelhanças que convém anteciparmos.”

“Banif – um novo BPN”
“Tal como aconteceu com o BPN, o governo prepara uma «nacionalização» temporária cujo objectivo é, mais uma vez, resolver os problemas do banco e depois entregá-lo limpinho para que os seus accionistas continuem a sacar os seus lucros.”

“Banif: Onde é que já vimos isto?”

“Banqueiros e Governo dizem que o Banif não é o novo BPN. Mas as semelhanças estão à vista…”


Basicamente, junto da opinião pública, está implantada esta ideia:

Tal como no caso BPN, as medidas de recapitalização da banca (previstas no Memorando da Troika e que calhou a este governo implementar) tratam-se de injeções de dinheiro em alguns bancos, destinadas a cobrir “falcatruas” dos banqueiros, à custa do dinheiro dos contribuintes… e, claro, "a direita" é que tem a culpa!

Mas, esta “teoria” terá adesão à realidade?

NOTA: Mais uma vez, repetimos: a escumalha do BPN tem que ir para a cadeia (seja rosa, laranja, verde ou amarelo às bolinhas). Agora, devem ser apuradas as responsabilidades de quem EFECTIVAMENTE as tem!



Como aqui no blog já foi abordado, na agenda mediática o BPN é sistematicamente “colado” ao PSD (nomeadamente, a Cavaco) e à “direita”.


Esta narrativa, obviamente, é aproveitada pela esquerda que frequentemente insinua a tese - tão Abrilista -  da “direita amiga do grande capital”. Se o PCP e o BE, são quem mais difunde esta mensagem, quem mais beneficia disto, é, sem dúvida, o Partido Socialista, que neste assunto parece passar “entre os pingos da chuva”…
 
Ora recorde lá estes factos - a que o nosso jornalismo parece não dar qualquer relevância – para que se possa responder à seguinte questão:

Os prejuízos que os contribuintes tiveram de assumir, são da responsabilidade exclusiva da “direita”, ou serão imputáveis à gestão socialista?


1 - Como é possível explicar o total falhanço da supervisão bancária do Banco de Portugal (BP), sob a responsabilidade do socialista Vítor Constâncio, quando - um jornalista “freelancer” (Camilo Lourenço) – com certeza, com muito menos meios ao seu dispor –
denunciava irregularidades no banco já em 2001?!

(tendo sido objecto de represálias, nomeadamente, de Dias Loureiro)


2 - Facto pouco mencionado por jornalistas e comentadores, é este: os portugueses foram chamados a “pagar a burla do BPN”, porque em 2008, Sócrates e T. Santos decidiram nacionalizar o banco. Na altura, recorde-se, afirmaram que tal decisão “não custaria um cêntimo aos contribuintes”...
O actual governo tomou posse no 2º semestre de 2011 e, recorde-se, no Memorando negociado pelos socialistas, já constava a obrigação de privatizar o BPN até ao final do ano (altura que ó BIC comprou o banco. Foi a melhor proposta.);


3 - Outro pormenor interessante da selectividade dos media em relação a algumas figuras é este: frequentemente é recordada a ligação de Dias Loureiro a Cavaco Silva (ligação que existem evidentemente!), mas,  para um jornalismo que é tão lesto a identificar “ligações suspeitas” quando toca a , por ex., a associar Relvas, o próprio Passos Coelho com o “espião” Silva Carvalho ou o escrutínio tipo “jornalismo de inquisição” que se viu no caso dos swap e a perseguição implacável à actual Min. das Finanças, não deixa de espantar o “esquecimento” da ligação entre Dias Loureiro e José Sócrates precisamente no período que coincidiu com a nacionalização – o ano 2008. Ora recorde lá:

“Sócrates. 'O Menino de Ouro do PS', biografia do primeiro-ministro da autoria da jornalista Eduarda Maio, foi ontem lançada em Lisboa. Dias Loureiro, ex-ministro do PSD, conselheiro de Estado designado por Cavaco, multiplicou-se em elogios a Sócrates e ao seu "optimismo, que faz bem a Portugal"”


“Loureiro acha que optimismo do PM faz bem ao País. Manuel Dias Loureiro, empresário, "barão" do PSD, conselheiro de Estado indicado pelo Presidente da República, mais parecia, ontem, um fervoroso militante socialista.”

 
4 – Como explicar que, após a nacionalização do banco em 2008, a CGD e entidades responsáveis (que recebiam orientações diretas do Ministério das Finanças), não tenham agido com a celeridade necessária e tenham permitido o que esta notícia de 2010 descreve:

“No final de 2008, o banco tinha recursos de 5,1 mil milhões de euros, valor que hoje é inferior a três mil milhões.”

Quem será responsável, se não a então gestão socialista, por permitir a evasão desses depósitos, e outros activos, e pelo acumular dos prejuízos que, depois, os contribuintes tiveram de suportar? Numa expressão tão querida a alguns – Porque não pararam de "cavar o buraco!

Será que a manutenção do BPN em “mãos públicas”, apesar do avolumar dos prejuízos de tal decisão, obedeceu a uma estratégia política – ao “guardar um trunfo” eleitoral – para ser arremessado nas eleições de 2010 contra Cavaco Silva?... Não!..., Sócrates não parece ser capaz disso, não é nenhum pulha!


5 - Para finalizar e para o caro leitor decidir se “baterá tudo certo” na versão que, recorrentemente, circula na comunicação social“a fraude do BPN é da responsabilidade exclusiva da direita” , isto:
 
Como é possível que em 2010, dois anos depois da nacionalização - ou seja, quando já era conhecida a dimensão da fraude naquela instituição  e indesmentível a negligência e incompetência dos responsáveis do B.P. no processo (basta recordar o ponto 1…) -, se tenha “premiado” Vítor Constâncio com uma nomeação para vice-presidente do BCE?!

Num momento em que já se queria fazer (e bem!) do BPN, um caso exemplar na justiça portuguesa, um caso onde a “culpa não poderia morrer solteira”, como explicar essa decisão?
 
Isto é mais compatível com uma efectiva vontade de identificar os responsáveis por uma burla que pode custar 8.000 milhões de Euros aos contribuintes, ou antes com o objectivo de branquear o que sucedeu?  


Enfim, isso não interessa nada… o que o cidadão deve reter é o seguinte:

“Esquerda boazinha Vs direita maléfica”
Caro cidadão, pf, não pense. Deixe que os jornalistas façam isso por si...