27 fevereiro, 2013

Quantos jornalistas terão ficado a reflectir nisto?


Desta vez, não será o autor deste blog a criticar os jornalistas e a comunicação social.  Aqui fica um artigo de João Adelino Faria que, entre outras coisas, aflora assuntos como o impacto que as escolhas as redacções - nomeadamente, o destacar ou silenciar certas notícias -, tem no espaço mediático e sobre a opinião pública.

"Qual é a diferença entre um banqueiro que utiliza uma imagem de um sem-abrigo e um sindicalista que chama escurinho ao representante do FMI?

O escurinho e o sem-abrigo

09/02/2013 | 10:00 | Dinheiro Vivo

Qual é a diferença entre um banqueiro que utiliza uma imagem de um sem-abrigo para falar da austeridade e um dirigente sindical que chama escurinho ao representante do FMI na troika em Portugal? Nenhuma. Mas nos jornais, nas televisões e até no parlamento, um foi censurado e questionado enquanto o outro foi simplesmente esquecido.

É curioso [para os leitores do blog já não será concerteza...]ver como os media e alguns políticos reagiram de forma tão diferente a estas duas declarações polémicas. Um banqueiro utiliza o exemplo de um sem-abrigo para demostrar o que são privações ao falar da austeridade e, de imediato, passa a ser abertura de noticiários. As polémicas declarações do presidente do BPI transformaram-se numa espécie de rastilho entre os partidos de esquerda. Vários deputados transformaram mesmo o caso em interrogatório numa comissão parlamentar e outros até perguntaram ao primeiro ministro se não ia pedir explicações ao banqueiro!

Dias antes, na manifestação dos professores, o líder da CGTP tinha chamado escurinho ao representante do FMI para Portugal. Tirando algumas notícias sem grande destaque e comentários no Facebook, não se viu ninguém, dos mesmos partidos que censuraram Fernando Ulrich, a criticar publicamente Arménio Carlos nem a levar o caso ao parlamento ou a questioná-lo numa comissão.

Estes dois exemplos demonstram bem que, ao contrário do que muitas vezes se quer fazer crer, afinal os media não protegem os poderosos e os ricos. Neste caso foi precisamente o contrário. O banqueiro está, pelo menos há duas semanas, a ser notícia por causa da declaração que fez. Já o dirigente sindical, tirando algumas exceções, foi caso encerrado nos jornais ao fim de dois dias.
 
(link para o resto do artigo aqui, segue-se o parágrafo final.)
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Não tenho dúvidas sobre as boas intenções e caráter destes dois homens. Já mostraram muitas vezes a seriedade com que estão nos cargos que desempenham. Por isso, talvez tudo isto não devesse ter tido assim tanta importância. Mas, se calhar, o empolamento das declarações e a criação de uma polémica até acabou por dar jeito a muito boa gente."
 
Então não deu...E parabéns a João Adelino Faria, neste país tão corporativista, é positivo constatar que alguns conseguem manter a capacidade de olhar para a sua "classe" com olhar crítico.