Vem este post a propósito da “guerra” de petições em torno do (eventual?) regresso de Sócrates, reencarnado em comentador, à RTP. Logo um conjunto de cidadãos se “indignou” e criou uma petição, a seguir veio a "contra petição". Este post é sobre esta sanha “peticioneira” e a veia manifestante tuga.
Todas as semanas o espaço mediático é fértil em petições indignadas contra isto e aquilo e/ou manifestações contra injustiças de vários géneros. Será que isto é sinónimo de um grande apego dos portugueses à ética e à decência na vida pública?
Todas as semanas o espaço mediático é fértil em petições indignadas contra isto e aquilo e/ou manifestações contra injustiças de vários géneros. Será que isto é sinónimo de um grande apego dos portugueses à ética e à decência na vida pública?
Qual a real importância que os "portugueses" atribuem a assuntos como a integridade dos seus líderes, a relevância de estes terem (ou não) uma conduta "limpa", decente, importância do respeito pela palavra dada, pela “verdade”, etc.? Neste capítulo, se há um momento na história recente que pode ajudar a caracterizar a sociedade portuguesa nesta matéria, esse momento, são as eleições de 2009.
Sinceramente, se a nossa sociedade fosse assim tão "alérgica" a políticos que "faltam à verdade", se, efectivamente, o cidadão português se senti-se tão repugnado com condutas de “honestidade duvidosa”, etc., teria sido possível que alguém como Sócrates, de quem, à altura, já se conhecia tudo o que se sabe hoje (a licenciatura, o Freeport, as pressões sobre a comunicação social, etc., etc.), obtivesse uma vitória tão clara nessas eleições?!
Nessa altura Sócrates arrecadou 37% dos votos contra 29% de Manuela Ferreira Leite. Apoiado num discurso completamente falso e irrealista, de mais estado social e mais investimento público (num momento em que a torneira do crédito se fechava) enquanto MFL – sobre quem não existiam dúvidas de carácter - alertava para o descalabro que aí vinha se não houvesse uma inversão de política. Os resultados dessas eleições são a prova, a evidência, reveladora das escolhas e preferências dos portugueses, quando confrontados com alguém que lhes aponta a verdade (que normalmente implica um caminho mais difícil) e alguém que lhes vende ilusões…
Como pode ser compatível o desfecho das eleições de 2009, com o tal país das petições e manifestações que, constantemente, reclamam “moralidade” aos seus políticos e onde os seus habitantes se declaram tão intolerantes com comportamentos não éticos?!
Nos jornais e televisões fazem-se anúncios tremendos: “Os portugueses saíram à rua” e lá os vemos, aos milhares, indignados com os “gatunos dos políticos”. Na rádio, televisão e jornais, diz-se que os portugueses estão cansados de serem “enganados” e que são pessoas revoltadas contra as injustiças e as iniquidades. Pois, pelas razões acima indicadas, desde 2009 a propósito de manifestações e petições, pergunto-me que percentagem dos indignados lá estão por uma simples questão ideológica (talvez tribal seja mais adequado…), isto é, manifestam-se por serem “anti-esquerda” ou” anti-direita”, em vez de ali estarem por consistentes razões éticas e pela “moralidade” na vida pública.
Pergunto-me até, quantas daquelas pessoas desmobilizariam e deixariam os cartazes cheios de princípios e valores caídos no chão, ao primeiro aceno de um subsídio extra ou de um empregozito, pois foi precisamente baseado nesta ideia - que era possível continuar a distribuir benesses - que Sócrates ganhou em 2009.
Claro que foi determinante o papel da comunicação social cooperante, que de episódio em episódio, ia desacreditando M. F. Leite (que, como se viu depois, falava verdade e a sua eleição teria provavelmente poupado os portugueses a parte destes sacrifícios…).
Agora, do mesmo jornalismo que a demoliu em 2009, até ouvimos dizer que MFL “teve razão antes do tempo”. Hilariante o jornalismo luso… Também aqui as redacções e jornalistas, deveriam reflectir em que medida o seu trabalho e qualidade da informação, está a contribuir para que os cidadãos, de forma consciente, possam escolher entre os bons e os maus políticos.
Em resumo e voltando à “guerra das petições”, lamento, mas acho que os portugueses têm os comentadores que merecem…
Em resumo e voltando à “guerra das petições”, lamento, mas acho que os portugueses têm os comentadores que merecem…