15 março, 2013

Notícias que passam ao lado das manchetes - Exportações.


A forma desonesta como a comunicação social continua a tratar os aspectos relacionados com este período que Portugal atravessa, nunca deixa de surpreender, veja-se o caso da evolução das exportações …

Desde o final de 2012 a mensagem das redacções para o “cidadão comum”, resumia-se a isto: "O motor das exportações gripou." A este diagnóstico, por se tratar do único sector da economia portuguesa que vinha revelando um bom desempenho ao longo de 2012, é recorrente associar a quebra das exportações em Dezembro de 2012, a uma ideia mais ampla de “falhanço” das políticas económicas deste governo.

Enfim, o jornalismo militante faz sempre questão de “embrulhar” os assuntos num contexto que pretende passar a seguinte narrativa: as medidas que vêm sendo tomadas recentemente – que são forçosamente recessivas e que condicionam a actividade económica em Portugal (os cortes, a austeridade, etc.) -, são resultado de uma opção de A ou de B, e não uma necessidade e consequência de o Pais ter entrado em bancarrota (pela 3ª vez em 30 anos, pela mão dos socialistas, recorde-se…).

Enfim, vende-se a ideia que estas "opções" de política económica resultam da vontade de Passos & Gaspar (esses neoliberais maléficos…) e não da circunstância de nos encontrarmos “amarrados” a um memorando com o fmi e instituições europeias.

Isto é uma falácia! Fosse quem fosse a governar, não poderia escolher um caminho muito diferente, pois estamos agarrados às metas do memorando. O tempo de "viver a crédito" já lá vai, mas parece que muitos continuam a não perceber que equilibrar despesas e receitas é uma questão matemática e não ideológica
(veja-se por exemplo o que está a suceder em França,  com Hollande “o crescimentista”).


Mas voltemos ao tópico “exportações”: 
Entretanto, chegaram os dados de Janeiro de 2013 e constata-se que as exportações registaram uma subida de 5,6%. Claro que ainda é cedo para dizer que a evolução em 2013 será positiva - aliás,em função da crise europeia, tudo indica que tal não suceda -, mas definitivamente tratou-se de uma notícia positiva. Importante e positiva.
 
Mas esta "boa notícia" tem um problema: não cola com a narrativa e a mensagem a toda a hora publicitada pelas redacções tão amigas dos ideais de esquerda. Por isso quando a realidade e as notícias não colam com essa narrativa, podem fazer-se duas coisas: simplesmente ignorar (como nestes casos) ou então recorrer à arte de transformar algo positivo em negativo, como nesta notícia publicada no Dinheiro Vivo:
 
 
Como classificar, até porque se trata de um órgão de informação especializado na área económica, a forma como esta notícia é apresentada aos leitores?! Será que as notícias deprimentes vendem? Os portugueses não terão já más notícias em n.º suficiente, haverá necessidade de as inventar?

Se uma das razões para a recessão que atravessamos decorre da quebra de procura interna, será que tornando o clima ainda mais negativo  - como as redacções parecem empenhadas em fazer - ajudará ou impedirá, a recuperação da confiança dos portugueses? Obviamente, a quebra de consumo está associada à quebra de rendimentos, mas recorde-se que nos últimos 2 anos as poupanças dos portugueses subiram, pelo que, também existem aqui outros factores a influenciar a evolução do mercado interno. E é bem conhecido o peso que as expectativas e a confiança dos consumidores, têm na economia....

Note-se como, depois de semanas com inúmeras referências na comunicação social à quebra das exportações, nos dias seguintes à divulgação deste dado o assunto como que desapareceu da agenda mediática...

Como tudo o que é positivo é ocultado, mesmo tratando-se de um tema vital para a saída de Portugal da crise, nem se discute o que estará na origem da queda das exportações em Dezembro e a (inesperada) recuperação em Janeiro. Estará de alguma forma relacionado com a greve dos estivadores? E se sim, não seria interessante discutir até que ponto estas greves estão a ser prejudiciais ao País?

Gostava, por exemplo, de conhecer a opinião de Arménio Carlos sobre este assunto, pena que para o critério jornalístico luso isto seja desinteressante e nunca saberemos o que os sindicalistas têm a dizer sobre o tema...