Na agenda mediática, os “cortes” e a “austeridade”, surgem sempre como o culpado para todo o tipo de fenómeno: pelo desemprego, pelos sem abrigo, pela fome, e por ai fora… Até fenómenos como a redução da taxa de natalidade ou a violência doméstica são conotados com os famigerados cortes.
Diversas vezes aqui no blog, já se questionou esta ideia, mil vezes repetida, e se referiu porque é uma falácia tal raciocínio e a narrativa que lhe está subjacente. Tal como o desemprego ou o “empobrecimento”, os cortes e os sacrifícios com que a sociedade portuguesa se viu obrigada a conviver, são a consequência dos erros de governação cometidos no passado e não a causa desses sacrifícios! Esses, infelizmente, são inevitáveis. E continuarão “por aí” durante anos….
Serve esta introdução para contextualizar um dos casos que recentemente suscitou uma onda de indignação "contra os cortes", desta feita na Saúde…
“A Ordem dos Médicos pediu um inquérito à Inspeção Geral das Atividades de Saúde sobre o caso do jovem acidentado de Chaves que percorreu centenas de quilómetros para ser atendido em Lisboa, por não haver vaga de internamento em quatro hospitais do norte.
Vejamos, um doente que não dá entrada em 4 hospitais do Norte do país por, alegadamente, não ter vaga, que faz então 400 km de ambulância e mais uma viagem de helicóptero para chegar a um hospital de Lisboa... pergunto: será que estamos perante um caso onde a explicação mais lógica são os “cortes na saúde”?!... Pois eu não consigo conceber uma solução mais cara que esta para tratar um doente!
Este caso merece a indignação de todos nós, mas será que a responsabilidade desta situação é das políticas do ministério ou das administrações dessas unidades de Saúde ou existirão outros culpados? Quem são os responsáveis pelo funcionamento das urgências dos hospitais às 2h da manhã!?
Como é habitual, logo veio o Sr. Bastonário com a lenga-lenga dos cortes e o ataque ao ministério de Paulo Macedo... Curiosamente (ou talvez não…) nunca ouvimos, por exemplo, a sua opinião em relação às fraudes de centenas de milhões de euros onde médicos aparecem sistematicamente envolvidos. Com tanta presença nos meios de comunicação social - e considerando que se essas fraudes no SNS não existissem, provavelmente, muitos dos cortes nem seriam necessários -, não seria relevante do ponto de vista jornalístico, questionar o Sr. Bastonário acerca das medidas da Ordem dos Médicos tem tomado em relação a esses casos?... Parece que não.
Aliás, em Portugal, "jornalisticamente relevante" parece ser sinónimo de entalar o governo… de direita, preferencialmente.
Voltando ao triste caso do jovem de Chaves uma última questão: Alguém duvida se, por um acaso, aquele jovem fosse filho de algum dos médicos que recusou a sua entrada na urgência, outra solução teria sido encontrada e o problema da “falta de vaga” teria sido resolvido?
Sim Sr. Bastonário, os cortes têm costas largas...